sexta-feira, 24 de dezembro de 2010



24/12/2010 e 25/12/2010 | N° 16559
CLÁUDIA LAITANO


A última gargalhada

O humor envelhece mal na televisão. Se o cinema conseguiu produzir clássicos como Chaplin e Buster Keaton, ainda engraçados quase cem anos depois da estreia dos primeiros filmes, na TV são raros os comediantes que conseguem fazer rir dos oito aos 80.

Se o caminho das estrelas de telenovela rumo à aposentadoria vai se desenhando aos poucos – de namoradinha do Brasil à vovó da família, muitos casamentos e capítulos se passam –, o comediante simplesmente sai de cena. Alguns mudam de atividade: viram entrevistadores, atores, redatores de humor.

Outros, depois de perder o horário nobre, vão parar no madrugadão ou são relegados às pequenas participações especiais em programas de humor dos outros – alguns com a fórmula já tão gasta pelo tempo e o mau uso, que parecem sobreviver apenas da falta de alternativas na programação da TV aberta.

Não que a piada ou o bordão, um dia engraçados, repentinamente fiquem anacrônicos – como o hábito de usar chapéu ou fazer coleção de chaveiros. É verdade que a linguagem e a forma de se comunicar com o público se transformam, mas o atributo que o tempo parece corroer mais violentamente é o de estar alguns passos à frente do público, surpreendendo os espectadores não apenas com a inteligência das piadas, mas com algum toque de irreverência e iconoclastia que choque os mais conservadores e aponte para o que ainda parece apenas uma provocação – mas já é o espírito de uma nova época se anunciando.

É como se, lá pelas tantas, os comediantes mais experientes perdessem a “pegada” , esse indecifrável atributo de quem faz algo muito bem sem nem sequer se esforçar tanto para isso.

Esta semana, o programa Casseta e Planeta, Urgente! se despediu da programação da Globo, e não pude evitar certa melancolia. Sou obrigada a reconhecer que o programa estava chato e repetitivo – e que isso se tornou ainda mais evidente diante da talentosa (e bagunceira) nova geração de humoristas que tem chegado à TV nos últimos tempos: Marcelo Adnet, Rafinha Bastos, Bruno Mazzeo e até o pirralho Felipe Neto, fenômeno da internet que estreou este ano no Multishow. Se os melhores humoristas da minha geração já estão se aposentando, é inevitável sentir o cutuco inexorável do tempo batendo na minha porta também.

O programa de despedida teve a participação do veterano Agildo Ribeiro, um dos humoristas que fizeram parte da infância da minha geração e que começaram a ser substituídos, no final dos anos 80, por Bussunda e companhia – na época tão indomáveis, que pareciam não caber na programação da Globo. Foi uma homenagem ao velho comediante, mas talvez também um recado: todos, um dia, saem de cena. Uma geração substitui, supera e incorpora a anterior, e é assim que tudo que é vivo funciona.

Mas fazer parte de uma narrativa, do contínuo histórico que une todos os que vieram antes de nós e os que virão depois não é apenas um consolo, mas uma elegante forma de eternidade.

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