sábado, 18 de dezembro de 2010



18 de dezembro de 2010 | N° 16553
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


Glaucus Saraiva

Glaucus Saraiva da Fonseca foi um pioneiro. Atleta perfeito, foi campeão de luta livre e natação. Como escoteiro, agauchou a Patrulha do Quero-quero, transformando-a em estância simbólica, com Patrão, Capataz e Peães, experiência que serviria mais tarde ao organizar o 35 Centro de Tradições Gaúchas em igual estrutura. Com Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, foi um dos três reis magos da santíssima trindade do Tradicionalismo.

Glaucus Saraiva foi, do meu ponto de vista, o maior poeta do gauchismo, imortalizado em poemas antológicos como Chimarrão, A Lenda do Quero-quero, Borracho e tantas outras obras-primas. Quase desconhecida, mas igualmente importante, é sua extensa poesia romântica, totalmente inédita até hoje. Como um autêntico autodidata, Glaucus era homem de muitas leituras, discorrendo com facilidade sobre temas da cultura universal.

Mas era também um iconoclasta que não se levava a sério, homem de amores tempestuosos, que espalhava prodigamente versos magníficos em qualquer guardanapo de restaurante... Como pioneiro, deu forma legal ao 35 CTG, que serviu de modelo para os mais de dois mil Centros de Tradições Gaúchas que hoje existem pelo Brasil e pelo mundo.

Criou o Galpão Crioulo do Palácio Piratini, que hoje leva seu nome. Criou o Parque Bento Gonçalves da Silva e é o autor da Carta de Princípios do Tradicionalismo Gaúcho.

Conseguiu a sede do 35 CTG, em Porto Alegre. Foi pioneiro e ainda é o grande nome nas pesquisas de folclore infantil no Estado, do que resultou o livro Mostra de Folclore Infantil. Como teórico, é o festejado autor de Manual do Tradicionalismo. Ombreou em pé de igualdade com os grandes intelectuais de seu tempo. Adorado pelos amigos e pelas mulheres, é um dos nomes mais fulgurantes de sua geração.

Glaucus Saraiva foi meu maior amigo, amizade que perdura após sua morte. Quem nos visse conversando pensaria que era briga, porque disfarçávamos amizade e ternura com o rude linguajar gauchesco recheado de palavrões e críticas acerbas, maneira que o gaúcho tem de disfarçar o carinho para não parecer menos macho. Durante anos fomos companheiros de pescarias em acampamentos memoráveis.

O Glaucus tocava mal o violão e eu cantava mal, mas nas noites de acampamento, quando a lua nos mandava sua bênção de prata, depois de alguns goles de um guaraná meio forte que produzem em Santo Antônio da Patrulha, o Catão vinha de viola em punho e me provocava para um tango e antigas reminiscências.

Como era moralista intransigente da boca pra fora, lhe dei o apelido de Catão, o grande censor da Roma Antiga, e, pela mania que eu tinha de usar arma, me chamava de Cisco Kid sem o Kid... Com o Catão, aprendi a ser cozinheiro e assador de churrasco.

Nenhum comentário: