Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
15 de dezembro de 2010 | N° 16550
MARTHA MEDEIROS
Uma casa
Nesta época do ano, fico mais observadora do que de costume. Cada pessoa que vejo passar pela rua me inspira uma história: quem será que ela ama, por quem sofre, em que trabalha, onde passou a infância? Todos nós temos uma casa da infância. Uma casa que provavelmente não existe mais porque em seu lugar foi construído um edifício. O passado morre de terraplenagem.
Hoje há apenas duas maneiras de se manter uma casa em pé, sobrevivente em meio às cidades altas. A primeira: ter gente dentro. Os moradores ainda estarem vivos e não só vivos, mas apegados às suas recordações, respeitosos do lugar onde criaram seus filhos, onde foram felizes secretamente.
Tenho uma tia que mora num casarão no bairro Petrópolis e que recebe visitas diárias de corretores, deve ser a única da redondeza que ainda não se rendeu. Podem lhe oferecer a cobertura mais espetacular do planeta, dali ela não sai. Não se trata apenas de abrir mão de uma casa em troca de um apartamento, mas de abrir mão de cada lembrança que os aposentos guardam. Toda casa antiga é uma casa dos espíritos.
A outra maneira de se manter uma casa em pé, frente à ausência de seus moradores, é transformá-la num centro cultural.
Sim, há quem as transforme em restaurantes, e não vejo mal algum nisso, mas um país precisa mais de centros culturais do que de restaurantes, ao menos o jovem Brasil, tão precário de memória.
Quem conheceu Caio Fernando Abreu sabe que a casa em que moravam seus pais, e em que ele próprio morou por alguns anos, a casa em que ele viveu seus derradeiros dias, a casa em que ele era dono de um quarto, a casa onde havia um jardim por ele vigiado, a casa do Menino Deus, essa casa era um personagem da sua história pessoal.
Essa casa hoje está à deriva e, se nada for feito, não demorará para virar mais um prédio de apartamentos. A casa onde Caio sonhou, viveu e escreveu poderá vir abaixo, a não ser que abaixo assinemos.
A Associação dos Amigos de Caio Fernando Abreu está liderando um movimento a fim de transformar a casa do Menino Deus num centro cultural que possa abrigar a extensa obra do escritor e servir de espaço para saraus, lançamentos de livros e demais manifestações artísticas.
Para isso, precisa de apoio, de boa vontade e da interferência do governo municipal, estadual e, por que não, federal, já que Caio Fernando era de Santiago do Boqueirão tanto quanto de Porto Alegre, São Paulo, Rio e, vamos além, também de Londres e Berlim. O tal cidadão do mundo.
Os amigos do Caio estão mobilizados, mas sem incentivo público e privado pouco se poderá fazer. E o que há para fazer? Comprar a casa e reformá-la. E entregá-la a uma administração eficiente e afetiva, que saiba preservar a obra de um gaúcho que tanto contribuiu para nossa cultura.
Informações: salveacasadocaio@gmail.com; amigosdocaiof@gmail.com e Liana Farias: (61) 8502-0590.
O intrépido Caio F. ficaria louco de faceiro.
Uma gostosa quarta-feira pra você. Aproveite.
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