quinta-feira, 3 de abril de 2008



QUEM NÃO AMA CARLA BRUNI?

Não se deve ter ilusões com o poder. Um político só precisa ter uma competência: fazer votos. Instalado num bom cargo, deve ser capaz de ocupar imensos espaços de mídia com assuntos de novela das oito.

A humanidade precisa de diversão. Nicolas Sarkozy, presidente da França, é hoje o mais hábil político do mundo, ainda que suas realizações econômicas e administrativas não despertem grande interesse. Enquanto George Bush continua atolado na ocupação desastrada do Iraque, Sarkozy brilha como marido de Carla Bruni. Ninguém tem dúvidas quanto ao que é mais importante.

O mundo, na linguagem altamente objetiva dos jornais mais sérios, está seduzido pela bela italiana que assume, cada vez mais, ares de Jacqueline Kennedy. Como todos sabem, comparar uma mulher à famosa primeira-dama americana é uma das obsessões dos jornalistas, uma espécie de ideal a ser alcançado.

Uma das mais consistentes análises que eu li ultimamente sobre personalidades internacionais está resumida neste parágrafo: 'O chapeuzinho pill box e o sóbrio mantô cinza sobre vestido tubo transformaram a cada vez mais pop Carla Bruni numa primeira-dama à la Jackie Kennedy.

A fada-madrinha, numa estratégia diplomática perfeita, foi o estilista inglês John Galliano, da grife francesa Dior'. Vejam como todos os termos da cadeia se associam perfeitamente, a começar por essa expressão de tom quase erótico e misterioso, 'o chapeuzinho pill box'.

Parece que já tem encomenda do tal produto em sex shop de Brasília. Eu teria dado parte da minha vida para ter escrito por conta própria uma frase em que se encaixasse um chapeuzinho pill box. Juro que tentei.

Cheguei a burilar uma crônica intitulada 'Um Chapeuzinho Pill Box'. Tudo, porém, soava falso em meu texto. Definitivamente, devo confessar, não tenho a menor competência para colocar uma preciosidade dessas no seu contexto adequado. Precisa um imaginário pill box.

No trecho citado, no entanto, o ápice acontece com o 'numa estratégia diplomática perfeita' atribuído ao estilista John Galliano. Maquiavel já sabia que a política é espetáculo e aparência.

Não há príncipe sem pompa. Não há realeza sem aura. Nem fofoca. Nada mais justo do que se elevar um estilista à categoria de estrategista maior da diplomacia. Ninguém sabe, nem quer saber, se a viagem de Sarkozy à Inglaterra dará algum resultado prático.

Essencial é perceber que surgiu um novo mito com o qual se divertir nos próximos anos. Entramos, enfim, numa nova fase da pós-modernidade, sempre capaz de unir nostalgia e reinvenção de tudo, a fase pill box. O talento de Carla Bruni para o papel de Carla Bruni é tão grande que ameaça enterrar de vez a sua carreira de artista. Finalmente ela entrou em cena para ficar.

A mídia é profundamente monarquista. Adora reis, rainhas, príncipes e princesas. Não vive sem um rei do futebol, uma rainha da uva, uma princesinha do mar, um príncipe da política.

É uma maneira infalível de arrancar lágrimas no intervalo entre dois folhetins. A competência já demonstrada por Carla, impulsionada por seu chapeuzinho pill box e por seu sóbrio mantô cinza sobre vestido tubo, já permite vislumbrar o seu futuro político.

Rapidamente – valha o jargão da política – ela está se cacifando para suceder o marido. Se Cristina Kirchner pode, por que Carla Bruni não poderia? Ela não é francesa? Não importa. É européia. E, nua, ainda mais convincente.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima quinta feira para você, com temperaturas amenas nesta Porto Alegre

Nenhum comentário: