quinta-feira, 3 de abril de 2008


CLÓVIS ROSSI

A hora do caudilho

SÃO PAULO - Quando ainda era assessor de imprensa da Presidência, o jornalista Ricardo Kotscho perguntou a seu chefe e amigo Luiz Inácio Lula da Silva o que gostaria de ser se não fosse presidente. "Candidato", respondeu Lula, de bate-pronto.

Anteontem, sem mais nem menos, o vice-presidente José Alencar disse que, "se perguntarem aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que o Lula fique mais tempo no poder". Parece ser verdade, a julgar pelas pesquisas.

Somando-se o primeiro parágrafo ao segundo, ter-se-ia o mais clássico caso de juntar a fome com a vontade de comer. Quer dizer, então, que vem aí a re-reeleição de Lula? Não necessariamente. Até prova em contrário, sou obrigado a tomar pelo valor de face as reiteradas afirmações de Lula de que um terceiro mandato consecutivo seria "brincar com a democracia".

A minha interpretação para a soma dos dois parágrafos iniciais é esta: Lula vai fazer o diabo para tentar eleger seu sucessor. Óbvio? Nem tanto, a julgar pelas especulações, inclusive recentes, de que ele faria corpo mole em 2010 para ter o caminho aplainado para voltar em 2014.

Fazer o diabo significa desconhecer limites para lealdades e nomes. O presidente já demonstrou que não morre abraçado nem com os mais próximos. Dispensou rapidinho, por exemplo, José Dirceu e Antonio Palocci.

Dispensará, portanto, manda a lógica, qualquer candidato/a a candidato/a que não decolar. Já demonstrou também que abraça ex-adversários com a mesma facilidade com que os atacava rudemente antes. A lista é imensa.

Creio que a única condição para um candidato ter em Lula um grande eleitor em 2010 será a capacidade de não ameaçar o caudilhismo que Lula exerce desde o sindicato de São Bernardo e que se firmou muito na Presidência.

crossi@uol.com.br

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