sexta-feira, 4 de abril de 2008



04 de abril de 2008
N° 15561 - Paulo Sant'ana


Varando a escuridão

Recuso-me simplesmente a fazer parte do coro dos contentes.

E recuso-me amavelmente a fazer parte também do coro dos conformados.

Não vou pisar jamais no tapete sob o qual escondem o lixo da sociedade.

Eu nasci para ser aspirador de pó.

Se imaginaram que de modo inconsciente ou por descuido eu me associara à desídia e à omissão interessada, se enganaram redondamente.

Eu nasci para assombrar os que astuciosamente ocultam as verdades ao público.

Se pensaram que eu poderia me acumpliciar ao mutismo deles, quebraram-se. Não sou membro de sociedades secretas informais que tramam sob o manto do silêncio, enquanto os valores da cidadania vão sendo destroçados.

Se esperam que eu vou parar por aqui ou me enfastiar de terçar armas com a espada das minhas verdades, desiludir-se-ão e irão desesperadamente buscar reforços junto às legiões da mentira, da prestidigitação retórica e da enganação.

Ontem, fui ao Hospital de Clínicas e durante três horas recebi uma aula de infectologia, ministrada por médicos e por professores daquele estabelecimento, sob o comando da sua direção.

Enquanto fora do Hospital de Clínicas querem me cristear, fui buscar lá, no estudo e na informação, força e energia impulsionadora das minhas verdades indesejáveis.

O que levou à tragédia atual da dengue no Rio de Janeiro foi exatamente a subestimação da epidemia por lá.

Peço então que não se subestime nenhuma epidemia aqui em Porto Alegre.

O silêncio que permeou o início da epidemia no Rio de Janeiro não pode grassar aqui em Porto Alegre em nenhuma epidemia.

O momento crucial e decisivo numa epidemia é o seu início, e tenho visto inúmeros prováveis inícios de epidemias sendo debelados exatamente pela propagação desses eventos pelos meios de comunicação.

O silêncio ajuda as epidemias.

O silêncio tem uma tal capacidade destruidora, que chega a superar nisso a nota oficial cínica.

O secretário municipal da Saúde colocou-me ontem à disposição sua equipe epidemiológica para contatos estreitos.

Quando for possível, os farei. E agradeço a oferta.

Mas o mesmo Dr. Eliseu Santos declarou ontem que "o pânico gerado devido à proliferação da bactéria Acinetobacter sp se deve à campanha eleitoral".

Até essa declaração, não havia qualquer conotação político-eleitoral na bactéria.

Como fui praticamente o centro e o início do debate sobre a bactéria, quero declarar que não sou nem serei candidato. Já não o fui quando instado quase que irresistivelmente no passado.

E se eu fosse candidato, para qualquer nível, com ou sem atuação em torno da bactéria, correria uma barbada.

Barbada porque o meu negócio, acertando ou errando, é defender a coletividade pelo jornalismo.

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