quarta-feira, 2 de abril de 2008



02 de abril de 2008
N° 15559 - Paulo Sant'ana


Prova mais que provada

Confirmo inteiramente o que eu disse ontem no meu espaço do Jornal do Almoço: é de extrema gravidade a infecção bacteriana que grassa nos maiores hospitais públicos do Porto Alegre. Tanto maior e mais grave quanto mais pacientes atende um hospital aqui na Capital.

O que eu disse ontem no Jornal do Almoço, condenavelmente insinuado que eu exagerara, foi totalmente confirmado à tarde pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), que, entre outros alertas racionais que fez na nota que lançou, declarou taxativamente: "A mortalidade de pacientes infectados é muito elevada".

Repito para os céticos e para os que tiveram ontem motivos menores para contrariar a realidade: o presidente do Simers declarou definitivamente que "a mortalidade pela infecção hospitalar bacteriana é muito elevada".

Mas ainda havia mais nocaute aos ingênuos e aos oficialistas: o presidente da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição declarava à noitinha que "já eram 27 os mortos nos hospitais do Grupo".

Fui pressionado de todas as formas possíveis durante a tarde inteira para amenizar o furo jornalístico que dei no Jornal do Almoço.

Pensei comigo: "A autoridade da minha fonte e o interesse público da notícia me transmitem, mais que a certeza, a convicção de que terei desonrado minha profissão de jornalista se, primeiro, não der a notícia, em segundo lugar, depois de a ter dado, tergiversá-la".

Foi dada a notícia e foi confirmada.

E eu não duvido de que a vitória foi da saúde pública, depois que providências profundas e acautelatórias serão tomadas a partir de hoje pela gestão municipal da saúde e pelos hospitais - mas foi também a vitória do jornalismo não intimidado.

Resta agora publicar as declarações da deputada Luciana Genro (PSOL-RS), logo depois de ter participado ontem pela manhã de uma reunião com a Superintendência do Grupo Hospitalar Conceição e a direção do Hospital de Pronto Socorro: "É muito grave a situação, esta bactéria (acinetobacter) é muito perigosa e não raro fatal.

O gestor municipal tem de urgentemente tomar medidas enérgicas de higienização nos hospitais e higiene dos familiares e amigos dos doentes que visitam os hospitais para acabar imediatamente com esse surto".

A interdição, desde dezembro, de UTIs no Cristo Redentor, no HPS, na Santa Casa e no Conceição são a prova irretorquível da capacidade fatídica da bactéria entre nós.

E irrompeu uma luz nos estudos sobre esse surto verificado aqui em Porto Alegre, em cima da preocupante realidade dos nossos hospitais públicos ou filantrópicos: a lotação dos hospitais pode ser a responsável mais direta sobre as mortes.

E viva o jornalismo! Porque, se de um lado deve-se evitar o pânico entre a população, por outro ao público não pode ser sonegada a realidade.

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