sábado, 25 de dezembro de 2021


25 DE DEZEMBRO DE 2021
J.R. GUZZO

Costura política

De todas as fraudes já praticadas pelos políticos brasileiros contra os eleitores deste país, poucas poderão ser comparadas, no passado, presente e futuro, com essa anunciada aliança entre Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin para disputar as eleições presidenciais de 2022.

O grau de sinceridade de uma chapa entre ambos, se pudesse ser medido em números, daria um zero absoluto; ao dizerem que se admiram mutuamente e têm ideias em comum, estão mentindo com um cinismo capaz de fazer inveja aos piores momentos da vida política nacional - e olhem que essa vida tem um caminhão de piores momentos. A curiosidade, no caso, é saber qual dos dois está mentindo mais.

Deve ser Alckmin. Lula mente o tempo todo e sobre todos os assuntos; está mentindo há 40 anos e não será agora que vai mudar, mesmo porque não consegue dizer a verdade nem quando lhe perguntam que horas são. É coisa de cabeça. Mas Alckmin, para fazer um acordo desses, está se transformando numa pessoa que não existe.

Isso não é uma "reinvenção", como dizem os consultores de carreira, nem uma mudança honesta para corrigir erros do passado. É uma falsificação pura e simples. Alckmin não tem nada, absolutamente nada, em comum com Lula, o PT, e a esquerda brasileira; ao contrário, sempre mostrou detestar isso tudo desde que entrou na política quase 50 anos atrás. Mudou agora por uma coisa que se chama oportunismo.

As desculpas que o ex-governador está dando para virar a casaca não resistem a 30 segundos de observação. Alckmin diz que está aceitando a ideia de ser vice de Lula por "patriotismo", "espírito público" e outras lorotas. O Brasil, diz ele, precisa do seu desprendimento, abnegação e demais virtudes; para atender ao apelo desesperado de uma "nação" em busca de "equilíbrio", aceita a vice-presidência na chapa do PT. Chega a ser cômico.

Há anos, desde os tempos do "mensalão", Alckmin vem chamando Lula de ladrão, corrupto, incompetente e daí para baixo. Lula, do seu lado, tem o mais completo desprezo pelo novo companheiro; é um dos que mais pisoteou, em sua coleção de inimigos. Não aconteceu nada de novo que pudesse justificar uma mudança das opiniões que um tem do outro.

Se resolveram se juntar, é unicamente porque Lula imagina que vai tirar proveito de Alckmin, e Alckmin imagina que vai tirar proveito de Lula - e que ambos vão enganar o eleitor com a fraude de uma chapa "moderada". É empulhação com teores de pureza de 100%.

J.R. GUZZO

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