terça-feira, 14 de dezembro de 2021


14 DE DEZEMBRO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Caminhadas

O venerando e sábio doutor Yukio Moriguchi, que ao longo dos seus 95 anos compartilhou sua medicina preventiva com papas e plebeus, disse mais de uma vez durante as consultas que meu saudoso pai fazia com ele:

- Caminhar é mais importante do que tomar remédio. Caminhar é mais importante do que consultar o doutor Moriguchi.

Sua intenção, evidentemente, era estimular os pacientes à prática de hábitos saudáveis, o que ele defende (e pratica) até hoje, como ficou documentado na excelente reportagem do caderno Vida, edição do último final de semana. Alimentação e repouso adequados complementam a sua receita de longevidade, ao que seu filho Emilio, que segue as pegadas do pai na vida profissional, acrescenta também o convívio social.

Pois as caminhadas temáticas, temperadas de convívio social, parecem ter entrado definitivamente na vida dos porto-alegrenses. Já tínhamos por aqui iniciativas esporádicas como a do músico e pesquisador André Neto, que criou e conduz o tour Porto Alegre Mal-Assombrada por igrejas, casarões, museus e praças do Centro Histórico que foram palcos de histórias macabras e lendas urbanas da cidade. Agora ampliam-se os passeios organizados pela Secretaria Municipal de Cultura como parte do projeto Viva Porto Alegre a Pé, que leva nativos e visitantes a pontos emblemáticos da Capital. O bairro Bom Fim, com sua história boêmia e suas esquinas malditas, acaba de entrar no roteiro dos caminhantes culturais.

Assim como no centro da cidade existem vários caminhos formais e informais que qualquer pedestre pode fazer sozinho ou em grupo, por antiquários, sebos, igrejas, museus e espaços arquitetônicos exclusivos, os bairros também têm histórias interessantes para contar. De norte a sul - do Sarandi, onde passei minha infância, à Serraria, onde resido -, Porto Alegre é rica em lendas, tipos folclóricos, episódios pitorescos e causos que identificam cada um dos seus desvãos.

Caminhar por minha cidade sempre me inspira. Quem anda a pé por aí sabe: há tanta esquina esquisita nesta cidade que tem uma orquestra sinfônica. Que tal um roteiro para Quintana, outro para Erico, outro para o doutor Moriguchi? 

NÍLSON SOUZA

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