terça-feira, 21 de dezembro de 2021


21 DE DEZEMBRO DE 2021
RECORTES DE VIAGEM

A cidade ao lado (1): De Nova Petrópolis a Linha Nova

A ideia de voltar a uma cidade da qual se gosta muito é sempre uma tentação - por menor que seja o lugar, sempre há alguma coisa nova para fazer ou ver. É assim, comigo, quando se trata de Nova Petrópolis (não, eu não canso de falar). Mas quando pedi, na pousada onde estava hospedada, uma dica de novidade por ali ou nos arredores, me responderam com uma pergunta:

- Você já foi a Linha Nova?

Não, nunca tinha ido. E não tive dúvidas. Fui. O que me levou a iniciar esta pequena série de textos sobre "a cidade ao lado" de consagrados destinos turísticos no RS. Dizer que o trajeto de 17 quilômetros entre Nova Petrópolis e Linha Nova já é a atração não é simples retórica: o caminho é lindo, de vales e paredões, de muito verde e construções bonitas. E, também conta, quase todo o trecho é asfaltado - as pequenas porções de estrada de terra estavam em boas condições.

Fiquei poucas horas em Linha Nova, mas conto o que vi e falo sobre o que li a respeito a seguir:

Linha Nova é um dos 30 municípios gaúchos com menor população (estimativa de 1.724 habitantes em 2021, segundo o IBGE). Visitantes parecem ser muito bem-vindos. Não se poderia esperar outra coisa de um lugar que integra duas rotas turísticas com nomes inspiradores: a Rota Romântica e o Vale da Felicidade. É uma jovem cidade, que vai completar 30 anos em 2022.

As principais atrações estão no Parque Municipal, onde fica a casa da primeira cervejaria do Estado, uma área de exposições e eventos, uma loja de artesanato e a Tenda do Agricultor. Em frente fica a igreja evangélica, de 1890. Ao lado dela, a primeira escola da cidade, hoje biblioteca. Fazem parte do parque ainda um centro poliesportivo, a escola e a prefeitura. E tente encontrar um palito de picolé na grama bem cortada! Uma pena eu ter chegado muito antes do horário da abertura e ter desabado uma chuvarada, o que me impediu de esperar para conhecer esses locais. Mas deu tempo para me fartar de produtos coloniais na tendinha.

Há 120 quilômetros de estradas e caminhos rurais, muitos abertos ainda na época da chegada dos primeiros imigrantes alemães, em 1847. Para incentivar o turismo, criaram-se roteiros autoguiados chamados de Spassweg - traduzido como caminho de diversão ou caminho prazeroso. Os lugares estão mapeados e sinalizados e dá para fazê-los a pé, de bicicleta ou de carro.

Eu ignorava que estava no chamado berço das cervejarias - o RS, aliás, está entre os Estados mais cervejeiros. Um dos primeiros imigrantes em Linha Nova, Georg Heinrich Ritter (que dá nome ao parque) veio da Alemanha já conhecendo a arte de fazer cerveja e começou a produzi-la não só para consumo da família, mas para vendê-la em seu comércio. Seus descendentes viraram cervejeiros em Porto Alegre em empreendimentos que deram origem à Cervejaria Continental, adquirida pela Brahma em 1946. Bom, a casa dos pioneiros ainda está em Linha Nova, mas a história da cerveja seguiu em frente e há na cidade pelo menos três cervejarias abertas ao público: a Origem, a Berço e a Qüera - uma quarta, a HorizontBier, está em construção. Sem contar os cervejeiros caseiros, que produzem para consumo com amigos e familiares.

Conheci a Qüera, bem perto do parque. Aberta há dois anos, funciona às sextas (das 17h às 22h), sábados e domingos (das 10h30min às 20h). Virou um atrativo, sobretudo na pandemia, pela extensa e bonita área verde, onde dá para fazer piquenique (adquirido na própria), comer petiscos ou hambúrgueres e, claro, experimentar as cervejas. Não aceitam reservas, mas não cobram entrada nem estacionamento. Você pode levar toalha ou cadeira se quiser se espraiar no gramado.

Há excelentes opções gastronômicas em Nova Petrópolis (duas semanas atrás, falei da Cidade Zaandam, costumo recomendar a Forneria da Mata, as cervejarias Traum e Edelhaus são ótimas alternativas, o Unser Haus nunca decepciona e há sempre o Colina Verde), mas eu não resisto em retornar ao Armazém Wazlawick, o antigo casarão que já abrigou vários empreendimentos da família de origem tcheca e, desde 2018, dá lugar ao restaurante. 

É o conjunto da obra que conta: o espaço, todo restaurado, é belíssimo, a comida é boa, ainda que eu resista a rodízios, o atendimento, impecável. A pandemia fez ampliar os espaços ao ar livre, ainda mais agradáveis. Para mim, a novidade, desta vez, foi o lounge instalado em fevereiro na casa de 1870 onde funcionava o açougue - você pode desfrutar de entradas e drinks enquanto aguarda por uma mesa. No interior, o vidro releva o piso original e o espaço é aconchegante. No Wazlawick, o pecado também mora ao lado e a lojinha de artesanato é parada obrigatória antes de seguir viagem.

Você pode continuar andando um pouco mais para o interior, por estrada asfaltada (entre no Km 12 da RS-235 e siga por quatro quilômetros) e um pequeno trecho de chão, até a Casa Sander. A atração aqui, para além dos sucos e geleias vendidos no interior da casa, são os pomares com morangos, amoras, mirtilos, parreirais nos arredores da construção. Piqueniques sob os parreirais, aliás, estão entre as ofertas do lugar, onde também é possível hospedar-se em três charmosos chalés. Uma das vistas a partir deles é a igrejinha evangélica amarela de 1925 que fica bem pertinho e que você não pode deixar de conhecer. Repare no cuidado não só do templo, mas do seu entorno. Lugar para voltar sem chuva.

Para dormir, escolhi a Villa do Arquiteto, a casa onde se é recebido pela Olir e pelo Carlos e onde a gente sempre se sente na própria casa. Não bastassem os jardins, a decoração, o cuidado com o ambiente, os pequenos detalhes nos quartos, a recepção é com um licorzinho caseiro, e o café da manhã... ah, da cozinha ao lado da sala principal saem bolos fresquinhos e é impossível experimentar um só. Mesmo que os horários estivessem limitados, para que os hóspedes não se aglomerassem, a refeição pode ser bem demorada e é o prenúncio de um dia que se anuncia perfeito. A dica do começo deste texto, aliás, veio da Olir e do Carlos.

ROSANE TREMEA

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