terça-feira, 28 de dezembro de 2021


28 DE DEZEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Viva a Lava-Jato

Vamos deixar bem claro: sou um defensor da Lava-Jato. E, quando falam que Moro queria condenar Lula, pergunto: como não quereria condenar? Como? Moro viu, como todos nós vimos, o que estava ocorrendo nos governos do PT. Viu como havia um esquema de manutenção no poder financiado com dinheiro público, viu como bilhões eram desviados, viu como havia acordos espúrios com grandes empreiteiras. Como não querer condenar o homem que comandava isso tudo?

Há alguns meses assisti ao ótimo documentário sobre Castor de Andrade. Todo mundo sabia que ele, além de ser presidente do Bangu e patrono da Mocidade Independente, era um dos capos do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Sua popularidade era imensa, e sua lista de crimes também.

Quem acabou com a carreira de Castor foi a juíza Denise Frossard, que é entrevistada no documentário. Denise deixa claro, ali, que ela trabalhou pela condenação de Castor. Em certo momento, chegou a comemorar o uso de um artifício jurídico que serviu para incriminar ainda mais o bicheiro.

Denise sabia que estava lidando com um criminoso perigoso e por isso se esforçou para fazer a justiça acontecer.

Casos como o de Castor ou os dos políticos e empresários condenados na Lava-Jato não são iguais a qualquer outra disputa jurídica. Nesses casos, a leniência da legislação brasileira só pode produzir injustiça. Como, aliás, produziu.

Não estou dizendo, com isso, que Moro não errou. Errou, sim, sobretudo quando aceitou o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro. Moro foi vaidoso e ingênuo. Vaidoso porque se deixou seduzir pelos elogios, pelos aplausos e pela bajulação. Passou, assim, a acreditar que fosse maior do que na verdade era. E ingênuo porque acreditou que um carrasco dos políticos poderia se tornar político sem sofrer o revide.

Outro erro (gravíssimo) de Moro foi não perceber quem era Bolsonaro. Como participar de um governo desses sem se comprometer?

Finalmente, Moro errou porque assumiu um lado. É óbvio que ele não fez o que fez por causa de alguma promessa de Bolsonaro, mas o fato de ter se tornado subalterno do inimigo de Lula o maculou de forma irrevogável. Melhor seria se ele tivesse continuado na magistratura e depois lançasse seu nome à Presidência.

Pior ainda: Moro não compreendeu que Bolsonaro tinha tanto interesse em sepultar a Lava-Jato quanto Lula. Tanto que o fez. Foi Bolsonaro quem conseguiu liquidar com a Lava-Jato, e não o PT. Ao contrário, os governos do PT tiveram comportamento democrático diante das investigações.

Mas, no final, os políticos venceram. E todos os crimes que ficaram sobejamente comprovados por centenas de investigadores, promotores e juízes se esfumaçaram como se nada tivesse acontecido. E o Brasil segue sendo o que sempre foi.

DAVID COIMBRA

Nenhum comentário: