sexta-feira, 31 de dezembro de 2021


31 DE DEZEMBRO DE 2021
ANO-NOVO

"Esperança" é a palavra eleita pelos brasileiros para 2022

Termo tem sido recorrente desde a primeira pesquisa, realizada em 2017, mas ganha novo sentido a partir da pandemia

Os brasileiros querem ser mais otimistas em 2022. Pelo menos, este é o resultado do levantamento feito pela Consultoria Cause e o Instituto de Pesquisa Ideia, que ainda apontou vacina como o termo de 2021. Dos 1,2 mil entrevistados entre 6 e 9 de dezembro, 17% escolheram esperança a palavra para o próximo ano, seguida de saúde (10%) e recomeçar (7%). Para especialistas em saúde mental consultados por ZH, mais do que a expectativa condicional de ocorrer algo bom, é preciso também agir para a roda da vida seguir girando.

Esperança tem sido uma palavra recorrente entre os brasileiros desde a primeira pesquisa, realizada em 2017, segundo o economista Maurício Moura, fundador do Instituto de Pesquisa Ideia e professor da Universidade George Washington. Somente entre 2018 e 2019, mudança foi o termo mais lembrado.

- Na verdade, esperança é um sentimento do brasileiro. É bastante particular da opinião pública brasileira a sensação de que o futuro será melhor do que o presente. Na América Latina, em geral, a questão da expectativa do futuro é recorrente. Ao contrário da Europa, onde esta visão é mais pragmática e as pessoas não esperam um futuro melhor do que o presente - destaca Moura, apostando em inflação como a palavra de 2022.

Para o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), a seleção de um termo que defina o ano permite às pessoas conversarem sobre o futuro, se reconhecendo numa mesma palavra. Porém, ressalta a ambiguidade existente na escolha dos brasileiros.

- Esperança é um termo ambíguo e pode remeter ao esperançar, expressão de Paulo Freire para designar um tipo de desejo, ou designar um tipo de espera, de expectativa condicional para que algo aconteça e, só então, possamos agir em conformidade com o nosso desejo - ressalta.

Ainda assim, Dunker considera necessário ter esperança, expectativa, desejos ou, de uma maneira mais abrangente, a chamada perspectivação do futuro.

Mas há os que desaprovam por completo a palavra como um termo positivo. Em artigo relacionado ao novo ano e publicado no Brazil Journal, o estrategista de comunicação e embaixador global da Unesco, Nizan Guanaes, fez questão de escrever sobre a desesperança, por não acreditar que o contrário dela seja capaz de mudar algo nos rumos da humanidade. Nas palavras dele, a esperança leva o ser humano a "terceirizar soluções que o mundo precisa urgentemente". A provocação de Guanaes gerou uma onda de compartilhamento do texto nos meios empresariais.

Significado

O psiquiatra Nélio Tombini, diretor da clínica Psicobreve, também segue na mesma linha de pensamento de Guanaes.

- Vejo a esperança como uma certa passividade diante da vida, e isso é muito da nossa cultura. Quando falamos esperança é como uma espera de que algo vai ocorrer. Alguém ou algo fará algo pra mim. O melhor seria se as pessoas dissessem "em 2022 farei de tudo para que a minha vida possa ser melhor", "espero me cuidar, não que alguém faça por mim" - argumenta.

Assim como Dunker, Tombini lembra do educador e filósofo Paulo Freire e do verbo esperançar que, para ele, poderia ser pensado para o próximo ano. Em sua obra Pedagogia da Esperança (1992), Freire, patrono da Educação Brasileira, cita que "? É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo."

ALINE CUSTÓDIO

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