segunda-feira, 27 de dezembro de 2021


27 DE DEZEMBRO DE 2021
OPINIAO DA RBS

O combate à inflação

Considerado a prévia da inflação, o IPCA-15, divulgado na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio até levemente abaixo do esperado pelo mercado, mas um olhar mais atento nos dados ainda inspira preocupações. O consenso era de um avanço de 0,8%, mas o percentual apurado foi de 0,78%, uma desaceleração em relação ao resultado de 1,17% em novembro. Assim, como se esperava, o índice encerrou 2021 com alta de dois dígitos. A variação anual de 10,42% é a maior desde 2015, confirmando o período de corrosão severa do poder de compra das famílias.

Deve-se atentar não apenas para os detalhes dos números, mas também para as perspectivas. Nos pormenores do IPCA-15, surgem informações relevantes. O índice de difusão, por exemplo, subiu de 65,7% para 68,9% na passagem mensal. Ou seja, um número maior de itens que entra no cálculo teve reajustes nos preços. Isso mostra a disseminação da inflação, que se fortalece nos serviços. Existem, ao mesmo tempo, temores em relação a fatores que escapam à influência de mecanismos internos, como a alta do juro. 

Temem-se efeitos negativos na safra de grãos pela falta de chuva em algumas regiões produtoras, como Rio Grande do Sul e Paraná. Há cautela com reflexos no fluxo de mercadorias e insumos por possíveis fechamentos de portos na China, devido à variante Ômicron da covid. Persistem ainda receios pelos estoques baixos de combustíveis no mundo e a alta das cotações de derivados do petróleo. Todos são ingredientes que podem levar a novas pressões em um futuro próximo.

Na tentativa de segurar a inflação e ancorar expectativas, no início do mês o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central elevou a Selic em mais 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano. O colegiado avisou ainda que, na próxima reunião, em fevereiro, haverá aperto no mesmo nível, levando a taxa básica para 10,75%. Nos últimos dias, porém, se iniciaram especulações de que o BC até poderia rever a intenção, a partir de sinais que indicariam um início de alívio na alta dos preços. Ao que parece, estas apostas perdem convicção, como mostrou a alta significativa dos juros futuros na quinta-feira.

Sabe-se que, quando se eleva a Selic, a atividade econômica - já fraca - sofre mais. Mas o BC já deu sinais eloquentes de que, neste momento, a prioridade é combater a inflação, um mal que atinge especialmente as camadas mais humildes da população, que gastam maior parte da renda com necessidades básicas, como alimentos e energia. As pistas indicam que todos os esforços da autoridade monetária serão destinados a não perder a credibilidade.

Muito da escalada da inflação é importada. É, neste instante, um fenômeno global. Mas há fatores internos, como o câmbio. Na semana passada, o dólar voltou a visitar o patamar de R$ 5,70. Grande parte da tensão nessa área decorre de crises políticas e institucionais e da sinalização de gastos de viés eleitoreiro, em colisão com a responsabilidade fiscal. Às famílias, resta apenas pesquisar para encontrar opções mais em conta e substituir itens mais caros. Mas é insuficiente para mitigar a carestia. A principal colaboração interna, do governo federal, seria demonstrar comprometimento com a saúde das contas nacionais, evitando novas intenções de caráter puramente populista. Se o BC continuar lutando sozinho, a conta para o país e para os brasileiros pode ser ainda mais salgada.

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