14 DE DEZEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
PROMESSA FRUSTRADA
Pode-se afirmar com segurança que a simples liberação do tráfego no eixo principal da nova ponte sobre o Guaíba, um ano atrás, representou uma das grandes notícias para os gaúchos na área de infraestrutura nos últimos anos. Afinal, há décadas o Estado aguardava uma travessia alternativa, aliviando o trânsito para chegar e deixar a Capital pelas BRs 290 e 116 e evitando os contratempos que surgiam a cada vez que precisava ser içado o vão móvel da ponte antiga, inaugurada em 1958.
Esse reconhecimento, no entanto, não evita o desapontamento com o fato de não ter sido cumprida a promessa do governo federal, de dezembro de 2020, de entregar "em breve" quatro das sete alças de acesso. Desde a cerimônia de inauguração, apenas três estão à disposição dos motoristas, deixando incompletas todas as facilidades anunciadas pela obra. Ainda não é possível, por exemplo, sair diretamente de Porto Alegre em direção a Guaíba ou Eldorado do Sul pela nova ponte.
Compromissos e prazos descumpridos, lamentavelmente, são um problema crônico das obras públicas no Brasil. Falta de recursos, erros em projetos, irregularidades detectadas por órgãos de controle, entraves burocráticos e de licenciamento, desapropriações lentas e dificuldades financeiras das empreiteiras contratadas são apenas algumas das causas. A própria nova ponte do Guaíba tem alguns desses ingredientes que frustram os usuários. O projeto foi iniciado em 2014, quando a previsão era ser concluído em 2017. Acabou que o primeiro veículo pôde passar apenas três anos depois. Mas, a despeito do atraso, é preciso atestar que, mesmo com solavancos, houve sucessivos esforços dos governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro para finalizar a construção assim como da bancada gaúcha no Congresso para reverter os episódios de escassez de recursos.
Um dos melhores quadros do governo Bolsonaro, exatamente pelo perfil estritamente técnico, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, assegurou há um ano que a conclusão das quatro alças de acesso que faltavam seria uma prioridade. Se de fato era, deixou de ser. A remoção de centenas de famílias das vilas Areia e Tio Zeca estacionou, impedindo o prosseguimento da obra. Alega-se falta de recursos suficientes para a realocação dos moradores e para a continuidade da obra. Assim, optou-se até por remanejar a verba existente para outros fins e mesmo a bancada gaúcha parece não ter demonstrado o mesmo empenho para garantir o dinheiro necessário.
O governo federal agora informa que a construção das alças ingressará no pacote de concessões das BRs 116 (de Porto Alegre a Camaquã) e 290 (entre Eldorado do Sul e Pantano Grande). Se ao menos há uma perspectiva, pode-se lamentar que não há segurança nenhuma sobre quando os motoristas poderão finalmente usufruir destes acessos, ajudando o trânsito a fluir melhor, com ganhos econômicos e de tempo. Obras inacabadas, não é segredo, costumam se deteriorar e, depois, custam ainda mais caro.
As decepções com o ritmo das obras públicas, infelizmente, são recorrentes. Em Porto Alegre e Região Metropolitanas ainda há projetos prometidos para a Copa de 2014 que se arrastam. Cheia de percalços, a duplicação da BR-116 entre Guaíba e Pelotas, da mesma forma, não foi entregue este ano, como chegou a prometer o governo federal. Surpreende que, a despeito de serem conhecidas todas as falhas no planejamento, na gestão, na fiscalização e na execução de obras públicas, os erros persistam. Ao fim, é o dinheiro do contribuinte escorrendo pelo ralo da incúria.
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