21 DE DEZEMBRO DE 2021
NÍLSON SOUZA
A dama e o bebê
Alice das Palavras Difíceis e Fernanda das Interpretações Monumentais se encontram na campanha de fim de ano do Itaú Unibanco que bate recordes de visualizações. A ideia nada menos do que genial da agência Africa foi magistralmente executada num diálogo a distância entre dois símbolos da imortalidade tecnológica - a menina encantadora que transita diariamente pelas telinhas de milhões de seguidores e a translúcida senhora do Auto da Compadecida, recentemente elevada ao Olimpo da Academia Brasileira de Letras.
A inversão de papeis surpreende e comove, mas também faz refletir. É a criança, com a autenticidade da inocência, que faz o adulto soletrar palavras e expressões de profundo significado humano, muitas vezes negligenciadas na nossa luta diária por conquistas materiais. Se pensarmos bem, concluiremos que todas as meninas e meninos do mundo nascem com esta sabedoria primordial, só que nem sempre prestamos a devida atenção.
- Quem te ensinou, minha filha? - finge, com a persuasão dos bons artistas, a nossa primeira dama do teatro, da televisão e agora da ABL.
Pausa para uma confissão: já tietei Fernanda Montenegro. Ao longo da minha carreira jornalística, em duas ocasiões - e apenas em duas - interrompi por segundos o distanciamento da objetividade profissional para me aproximar de celebridades a que tive acesso por força do meu ofício. Peguei um autógrafo do escritor Mario Vargas Llosa, a pedido de um querido e saudoso amigo cuja esposa tem o mesmo nome da personagem de um de seus livros; e tirei uma foto ao lado de dona Fernanda, acompanhando uma colega de trabalho que também é sua admiradora.
Dito isso, volto correndo para minha condição de cronista com licença para subjetivar. O que vai responder Alice para a interlocutora distante? Mamãe? O tio da filmagem? Nada disso. Alguém pautou uma imensa palavra fácil para a menina das palavras difíceis:
- A vida! - conclui ela. Na verdade, não conclui. Ainda saca de seu repertório de encantos - por livre e espontânea vontade, segundo contou mais tarde a mãe - um beijo para a câmera, para dona Fernanda, para todos nós.
Um beijo de criança, isso sim muda o mundo. Bom Natal a todos.
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