11 DE DEZEMBRO DE 2021
GERIATRIA
YUKIO MORIGUCHI SABE MUITO SOBRE VIVER MUITO
LANÇAMENTO DE BIOGRAFIA MARCA INAUGURAÇÃO DE INSTITUTO SOBRE A LONGEVIDADE
Todos os dias, o médico geriatra e professor aposentado Yukio Moriguchi cumpre rigorosamente o que sempre apontou como os três pilares de uma vida longa: alimentação saudável, repouso adequado e atividade físicao
- Depois do almoço, descanso uma hora e caminho uma hora - diz em japonês, sinalizando voltas pelo apartamento, onde faz o exercício rotineiro desde o início da pandemia.
Moriguchi, 95 anos, dedicou mais de seis décadas ao estudo e ao ensino da longevidade. Um dos feitos de que mais se orgulha é ter sido conselheiro médico do Papa Paulo VI, de 1964 a 1967, antes de vir morar no Brasil. Enquanto professor da PUCRS, onde trabalhou até os 89 anos, Moriguchi criou o Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG). Posteriormente, recebeu do Imperador do Japão a Comenda do Serviço Médico Humanitário - seu prêmio preferido.
Sua longa estrada é o tema do livro Yukio Moriguchi: Segredos de Longevidade e Fé do Pai da Geriatria na América Latina, escrito pelas jornalistas Ana Paula Acauan e Magda Achutti e lançado na inauguração do Instituto Moriguchi - Centro de Estudos do Envelhecimento, em 26 de novembro, em Veranópolis. Com tiragem reduzida para distribuição no evento, a obra teve apoio do Instituto Moriguchi e da Fundação Universidade Aberta para Terceira Idade do Amazonas. Em breve, deve estar à venda na Amazon.
A partir de entrevistas com o biografado, familiares, ex-colegas, ex-alunos e ex-funcionários, Acauan e Achutti narram o início da carreira de Moriguchi, após sua formação em Medicina pela Universidade de Keio, no Japão, em 1948; a ida para a Itália e a primeira viagem ao Brasil, em 1955, quando conheceu a esposa, Lia; o nascimento dos quatro filhos: Emilio, Inácio, Cristina e Vicente; a mudança definitiva para o país e todas as conquistas obtidas ao longo dos anos.
Segundo as autoras, Moriguchi ajudou a formar cerca de 1,3 mil geriatras e contribuiu para o aumento da expectativa de vida da população: "Quando chegou, o brasileiro vivia em média 52,5 anos. Em 2019, pré-pandemia, o número saltou para 76,6". Para o especialista, as pessoas começaram a se cuidar mais, e seus alunos que viraram professores ajudaram a repassar ensinamentos sobre alimentação e hábitos saudáveis. Ele enumera três tópicos para ter uma vida longa: repouso, com oito horas diárias de sono; manter uma boa alimentação, não consumindo muita gordura animal ou exagerando no sal e no açúcar; e se exercitar pelo menos uma hora por dia.
Sua rotina é regrada. Acorda às 6h30min, toma um copo de leite morno e, das 7h às 9h, vê as notícias do Japão pelo canal NHK. Em seguida, o café da manhã: uma tigela de arroz, de natto (alimento tradicional japonês feito de soja fermentada) ou um sanduíche. O almoço costuma ter pratos típicos do Japão. À noite, geralmente come só uma maçã ou uma pera cozida. Diz que a pessoa deve passar um pouquinho de fome nesse período do dia para de manhã comer bem. No tempo livre, lê livros e a Zero Hora, enquanto a esposa faz sudoku e palavras cruzadas. O que não entende do português ele pesquisa no dicionário ou anota no quadro branco da sala de estar para perguntar aos familiares depois. Às 20h, já está na cama, mas só dorme às 22h.
Além das caminhadas diárias no apartamento, faz fisioterapia duas vezes por semana com a neta Clara Takako Moriguchi, que está no último ano do curso na UFRGS. O objetivo do exercício, também feito com Lia, 93 anos, é manter a funcionalidade e a força de ambos, que são bem preservadas, apesar da idade.
Sayuri Maruyama, que trabalha com o casal desde 2013, relata que os dois são muito independentes e ficam sozinhos quando ela não está. Preparam as refeições quando necessário e não precisam de ajuda para tarefas como lavar a louça e tomar banho. Além de remédio para a pressão, tomam apenas vitaminas.
uma experiência em veranópolis
O começo dos estudos em Veranópolis, cidade da serra gaúcha conhecida como Terra da Longevidade, também é narrado no livro. Com início em 1994, as pesquisas deram origem ao Instituto Moriguchi, localizado junto ao Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi e comandado por seu filho primogênito, Emílio, e outros três especialistas: Berenice Maria Werle, Neide Maria Bruscato e João Senger. Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/Secção RS, Senger foi aluno de Moriguchi na pós-graduação e arrisca dizer que metade dos geriatras do país tiveram aulas com o professor:
_ Se o instituto existe, é graças a Moriguchi. Ele dizia nas aulas que não adiantava só envelhecer, que tinha que envelhecer com qualidade de vida. Nos ensinava, naquela época, coisas que os outros médicos achavam que não era da medicina. Estava certo. Vejo o instituto como uma continuidade do seu trabalho.
JHULLY COSTA
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