18 DE DEZEMBRO DE 2021
CLAUDIA TAJES
Amores difíceis
Italo Calvino que perdoe a apropriação indébita deste lindo título por uma humilde colunista de Porto Alegre, mas olha a notícia da semana passada: "O bispo espanhol Xavier Novell foi formalmente destituído de seus poderes e proibido de realizar sacramentos após se casar com uma autora erótica que também escreve sobre satanismo. A oficialização ocorre cerca de quatro meses depois de ele decidir abandonar sua carreira na Igreja para levar adiante seu matrimônio".
Único comentário possível nessa hora: rapaaaaaaaz. Não bastava o padre ter se apaixonado por uma autora erótica, ela ainda escreve sobre o cramulhão e seus mistérios. Estava quase comovida pela história de amor improvável quando li outra parte da notícia: "Novell se tornou o bispo mais jovem da Espanha aos 41 anos, quando foi nomeado para o município catalão de Solsona em 2010. Ele teria apoiado e participado das chamadas terapias de conversão para gays".
Pronto, foi-se a minha simpatia pelo ex-santo homem. O mais jovem bispo dedicado à cura gay? Mas vá plantar batatas, ou patatas, em catalão. Curioso é que, embora destituído e proibido, o recém-casado Xavier vai manter o seu título de bispo - embora já esteja encaminhado em sua nova vida: "Formado em engenharia agrícola, Novell está trabalhando para uma empresa que extrai e vende sêmen de suínos".
A partir do romance do bispo e da satanista, pensei em outros casais de interesses diversos, por assim dizer. De sexos opostos ou do mesmo, pode não haver monotonia, ainda que, eventualmente, falte um pouco de harmonia entre os pares. Mas esse é o amor. Ninguém disse que seria fácil.
A zen e o apressadinho
Tudo o que ela faz é na marcha lenta. No salão em que trabalha, leva duas horas para fazer as mãos das clientes - e tem fila para marcar, tão perfeito é o trabalho. Passa horas recuperando os arquivos de computador que a família perde e, quando inspirada, pode levar um dia inteiro preparando o jantar. Já ele é o famoso pé de vento, vive de passagem pela vida e descansa do serviço - é especialista em trânsito rápido - treinando para os cem metros, categoria Lendários. Ninguém entende como estão juntos há quase 20 anos, mas dá para arriscar um palpite. Pelo menos da porta do quarto para dentro, ele acompanha o ritmo dela.
O esculhambado e o furacão branco de Ajax
Se um adivinhasse o outro, é quase certo que nem teriam se cumprimentado. Mas então se apaixonaram e, quando viram, já estavam dividindo a casa - e as broncas. Um atira as roupas no chão do quarto, outro não suporta um vinco no edredom. Um pode empilhar louça até que não reste um garfo limpo, outro ama lavar as vidraças no sábado. Um jamais virou o cestinho do banheiro, outro desce com o lixo, devidamente separado, três vezes por dia. Um não sabe há quanto tempo estão juntos, outro contabiliza até os segundos desde o primeiro encontro. São mais de cinco anos, e contando. Até que uma cueca usada e largada no meio da sala os separe.
A #EleNão e a #EleSim
Ela estava com a camisa da CBF e um pixuleco na mão quando botou o olho na baixinha de preto, a cara barbuda de você-sabe-quem estampada nas costas da jaqueta. Amigos em comum deram um jeito de promover o encontro e as duas descobriram que, embora as divergências irreconciliáveis, gostavam uma da outra. Os últimos três anos não foram fáceis, as duas sempre em passeatas diferentes, as tantas crises econômicas, da saúde, ambientais e humanitárias do país estourando dentro do quarto delas. Estão pisando em ovos com as últimas pesquisas. Se o amor vai sobreviver às próximas eleições, só as urnas - eletrônicas - dirão.
A gremista e o colorado
Esse é o tipo de casal comum, que a gente encontra em qualquer ida ao supermercado ou em uma voltinha pela Redenção. É uma situação facílima de levar, desde que o/a parceiro/a entenda que o amor maior mesmo, sem um segundo de dúvida, amor para sempre, é pelo clube dono do seu coração. O recente infortúnio do Grêmio pode ter abalado alguns relacionamentos, notadamente aqueles em que a flauta é liberada. Passado o choque, segue a vida. Não é essa ou aquela divisão que vai mudar o que a gremista sente. Não pelo marido, óbvio, mas pelo clube.
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