terça-feira, 21 de dezembro de 2021


21 DE DEZEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

O RESCALDO DA ELEIÇÃO CHILENA

Não se trata aqui de analisar o resultado da eleição chilena em si, méritos ou deméritos dos candidatos, suas orientações ideológicas ou de traçar prognósticos para o futuro governo. Mas o pleito do país andino, a despeito da campanha polarizada, trouxe ainda no domingo, enquanto o resultado final se desenhava, lições de respeito à democracia e de civilidade que devem servir de exemplo para o Brasil, que vai às urnas no próximo ano.

Candidato derrotado, José Antonio Kast, de direita, foi de elegância modelar ao reconhecer, ainda antes do fim da apuração oficial, o desejo popular. Em suas redes sociais, parabenizou o adversário de segundo turno "pelo seu grande triunfo" e disse que "desde hoje o presidente eleito do Chile merece todo nosso respeito e colaboração construtiva". Apesar da disputa dura entre dois postulantes de campos políticos totalmente opostos, o vencido se manifestou com a urbanidade esperada de um democrata. A conduta de Kast pode parecer óbvia e nada além do que deveria ser usual. Mas episódios recentes, inclusive em países com instituições fortes e maduras, mostraram a existências de maus comportamentos, como a resistência em reconhecer a vontade do eleitor, que podem ser uma influência perigosa para outras nações.

A mesma postura digna e de deferência à institucionalidade teve o presidente Sebastian Piñera, também de um partido de ideologia diversa em relação ao vencedor da eleição. Felicitou o seu sucessor, desejou êxito, lembrou que o futuro mandatário terá como grande missão unir os chilenos e prometeu uma transição serena, iniciada ainda ontem.

O vencedor, deputado Gabriel Boric, 35 anos, representando a esquerda, também demonstrou maturidade. Em seu primeiro discurso como eleito, em tom moderado, agradeceu a todos os adversários, inclusive a Kast. Disse que, apesar de suas diferenças, conta com suas ideias e propostas, como forma de construir pontes que levem os chilenos a uma vida melhor. Pregou acordos amplos para cumprir suas metas, fez acenos a empresários, defendeu a liberdade de imprensa como pilar da democracia e citou a necessidade de expandir direitos com responsabilidade fiscal. Em resumo, fez um chamado à unidade, à pacificação e à costura de consensos.

Só o futuro dirá se Boric fará uma gestão exitosa e se conseguirá formar uma coalização que garanta a governabilidade. O mais importante, neste momento, é observar como se comportaram as instituições e os candidatos e como reagiram aos resultados. E observar, com a mesma atenção, se as palavras moderadas se transformarão em atos concretos no futuro. Nesse primeiro momento, a postura de vencedor e vencido enobreceu a democracia chilena. Que este comportamento republicano, respeitoso e civilizado possa ser inspirador e se repita em 2022 no Brasil. 

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