23 DE DEZEMBRO DE 2021
FALTA DE VERBA
Lancha histórica da BM afunda na Capital
Sem reparos em razão da dificuldade para angariar recursos, uma lancha considerada histórica que pertence à Brigada Militar afundou durante um temporal que atingiu Porto Alegre e Região Metropolitana no final de novembro.
Conforme a Associação Amigos do Museu da Brigada Militar (AAMBM), a embarcação foi adquirida em 1926, na Alemanha, e tinha, na época, motores com capacidade superior a de outros equipamentos do Estado, e serviu para ajudar a controlar incêndios de grandes proporções. Procurada, a BM informou, por meio da comunicação social, que não irá se manifestar.
Segundo a AAMBM, a lancha estava ancorada em um cais próximo à ponte antiga do Guaíba. Ela foi tirada de serviço na década de 1990. Depois, a propriedade do equipamento foi transferida ao Museu da Brigada Militar, que fica no centro da Capital, como patrimônio histórico.
Conforme o presidente da associação, coronel Jeronimo Carlos Santos Braga, a lancha foi comprada pelo então diretor dos Serviços de Bombeiros da prefeitura, mais tarde assumido pela Brigada Militar, general Petrazzi, que dá nome à embarcação. Depois, em 2017, quando o Corpo de Bombeiros foi desvinculado da Brigada Militar, a lancha permaneceu no acervo da BM.
- É uma perda inestimável. A embarcação havia sido transferida como patrimônio histórico ao museu da Brigada Militar, mas a falta de recursos para a manutenção resultou no naufrágio. Tanto a associação quanto a própria Brigada buscaram recursos em diversos órgãos, mas infelizmente o patrimônio histórico nunca é prioridade. A memória sobre essa embarcação está guardada, mas sabemos que será difícil recuperar a lancha agora - lamenta Braga.
Restauração
Segundo o coronel, a entidade tentava angariar fundos para restaurar a lancha por meio da Lei Rouanet. O processo, realizado em 2013, não chegou a ser concluído por que o Ministério da Cultura solicitou mudanças para a aprovação. Há cerca de 10 anos, um estudo indicou que o valor para manutenção girava em torno de R$ 1,6 milhão. Com a embarcação naufragada, Braga estima que o valor para erguer e reformar a lancha possa dobrar.
- Uma das dificuldades que encontramos para ingressar na Lei Rouanet, por exemplo, era achar um engenheiro naval que aceitasse atender a todos os critérios colocados pelo ministério, além de ser pago apenas após a captação de recursos - complementa.
Braga lembra que a embarcação contava com dormitório para quatro pessoas, cozinha e banheiro. Além disso, seus dois canhões eram capazes de bombear água a grandes distâncias.
Segundo o coronel, hoje na reserva da Brigada, no tempo em que os hidrantes da Capital não tinham pressão suficiente para serem utilizados em grandes incêndios, a lancha era usada, devido à capacidade dos motores.
A embarcação foi utilizada também para conter as chamas da explosão em um depósito de fogos de artifício, no bairro Navegantes, na Capital, em 1971, que destruiu 56 edificações, entre prédios e casas. Ao menos 10 pessoas morreram no sinistro. Alguns anos depois, a lancha deu apoio no controle do fogo que atingiu unidade das Lojas Americanas, em Porto Alegre.
O coronel lembra ainda que, em abril de 1976, a lancha foi usada no incêndio no prédio das Lojas Renner, no centro de Porto Alegre, que deixou 41 pessoas mortas e dezenas de feridos, naquela que foi considerada uma das maiores tragédias da história recente de Porto Alegre.
BRUNA VIESSERI
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