sexta-feira, 31 de dezembro de 2021


31 DE DEZEMBRO DE 2021
FLÁVIO TAVARES

O NOVO ANO

Até pouco tempo atrás, em todo final de dezembro explodiam previsões sobre o ano novo. Qualquer arremedo de oráculo, fosse cartomante, vidente ou astrólogo, disputava um lugar ao sol em busca do sonho de adivinhar ou prever os futuros 365 dias. Mas os sonhos, sonhos são e concluem sempre num despertar que, mais do que tudo, mostra que estamos vivos.

O ano de 2022, porém, marca tantos centenários que basta recordá-los para recobrar o ânimo dos tempos atuais, em que a covid planetária convive, no Brasil, com a insensatez dos governantes. Por isto, relembro as datas.

Este 2022 marca os 200 anos da Independência do Brasil, mas continuamos com o espírito e a visão colonial. Seguimos adotando o que seja estrangeiro e, em todas as áreas, temos vergonha de criar. Estamos perdendo até o idioma, usando desnecessários termos ingleses no dia a dia.

Neste janeiro, festejamos os cem anos do nascimento de Leonel Brizola. Figura sem par na política do país em coerência e lucidez, fez da escola e da educação o motor do desenvolvimento. Como governador, uniu o Rio Grande no movimento da Legalidade e derrotou o golpe de Estado urdido em 1961.

A politicalha atual tenta levá-lo ao esquecimento. Em Porto Alegre, só um pequeno viaduto (sempre em obras e, assim, inoperante) tem seu nome. Fecham-se escolas e o magistério vive de migalhas, ao contrário dos tempos de Brizola.

Este 2022 marca o centenário da Semana de Arte Moderna, iniciada em São Paulo e que, em 1922, rompeu a viciosa modorra de copiar a Europa na literatura, na pintura e na arquitetura e buscou raízes no Brasil real.

No Brasil musical, porém, nada marca tanto os últimos cem anos do que aquele 1922 em que o chorinho Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro, foi considerado pernicioso e atentatório aos "bons costumes". Aquele "ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso" foi visto como extravagante e pernicioso, algo que agora, cem anos depois, soa como belo e sem malícia.

Hoje, maliciosa, extravagante e absurda é a postura do governo federal sobre a vacinação das crianças contra a covid-19. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro declara que "não vacinará a filha de 11 anos", e o ministro da Saúde (com apoio do chefe) inventa "consultar a população" para que leigos opinem sobre o que não conhecem. A vacina é um preventivo para evitar a doença, foi aprovada pela Anvisa e vem sendo usada em crianças nos EUA e na Europa.

FLÁVIO TAVARES

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