22 DE DEZEMBRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
A SUPERAÇÃO DAS ESTIAGENS
O verão que começou ontem chega com uma velha conhecida dos gaúchos nos meses mais quentes do calendário: a falta de chuva. Os prognósticos fazem este alerta. Os próximos meses serão de precipitações abaixo da média e temperaturas acima do usual, trazendo dificuldades para o campo e as cidades. A umidade abaixo do ideal, aliás, já se faz presente. Alguns municípios, especialmente da Metade Norte, tiveram de recorrer a decretos de emergência devido à estiagem, com relatos de algumas comunidades com escassez de água para consumo humano e animal, como mostrou ontem o Jornal do Almoço, da RBS TV.
O clima seco põe em estado de atenção os agricultores. O mais recente boletim da Emater adverte que o solo está em situação inadequada para o plantio da soja e o desenvolvimento das lavouras, que têm grande peso na economia gaúcha. Dificuldades semelhantes tem a cultura do milho, de grande importância por ser insumo fundamental para a cadeia de carnes, outro setor relevante e grande gerador de empregos.
Chuvas escassas, mal distribuídas ou mesmo secas severas não são exatamente novidade no Rio Grande do Sul. Estudos apontam que, com as mudanças climáticas, é esperado que este panorama instável seja uma realidade ainda mais recorrente no Estado. Mas as estratégias para minimizar estes problemas são conhecidas. Passam por conscientização e união nas cidades e no meio rural no sentido de usar de maneira mais racional um recurso que não é infinito e também pela solução de entraves que freiam projetos de irrigação. Nos centros urbanos, rever hábitos e ser mais parcimonioso no uso da água em tarefas cotidianas torna-se dever.
Após a seca histórica de 2012, o Estado teve crescimento significativo nas áreas de milho irrigadas, cultura mais sensível à seca. Mas o avanço, antes acelerado, vem perdendo ritmo. Estiagens seguem causando prejuízos, apesar da busca por desenvolver cultivares mais resistentes ao estresse hídrico. Hoje, somente 10% da extensão cultivada com o grão não conta apenas com água da chuva. Há demanda para se elevar este percentual, mas esbarra-se principalmente na burocracia e em entraves para obter licenças ambientais. Estima-se que o Rio Grande do Sul tenha hoje cerca de 233 mil hectares de lavouras de sequeiro irrigadas (excluindo-se o arroz), mas o tamanho poderia ser quatro vezes maior se existissem mais reservatórios hídricos.
A ampliação da capacidade de armazenamento de água tem ainda de ser mais abrangente. Não apenas com a construção de açudes, mas de poços artesianos e até de cisternas, utilizadas para guardar a água da chuva e amplamente usadas no nordeste do país. Esta, aliás, é uma intenção já manifestada pela Secretaria da Agricultura do Estado, para ser adotada de acordo com as características dos terrenos. É preciso, junto a isso, empregar ainda mais práticas conservacionistas, como o plantio direto e os chamados terraços, que ajudam na manutenção da umidade do solo e evitam a erosão, sem esquecer de proteger nascentes e matas ciliares. Minimizar as dificuldades enfrentadas pelo Rio Grande Sul a cada seca depende do esforço conjunto de autoridades, especialistas, agricultores e cidadãos para a adesão e o apoio a medidas e técnicas adequadas e, principalmente, para a superação de impasses.
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