08
de março de 2013 | N° 17365
ARTIGOS
- Ari Riboldi*
Por uma mulher cidadã
A
luta da mulher por autonomia é antiga. Em muitas culturas, continua sendo
escrava, submissa ao homem. Na Idade Média, era apenas um animal doméstico,
reprodutora. A que ousasse ter orgasmos era considerada pecadora, com o diabo
no corpo. Ainda hoje sofre preconceitos, discriminações. Precisa provar diariamente
a competência profissional.
Exerce
funções subalternas, tem salários inferiores ao homem. Responde pela alcunha de
“sexo frágil”. A linguagem reflete essa condição feminina, pois é fruto da visão
machista, dominadora. As palavras dizem tudo: a cultura, o modo de pensar e
agir. Acompanhe essa realidade em algumas expressões sobre a mulher, com a
respectiva definição e origem.
Ver
passarinho verde é frase antiga que denota a total submissão feminina. Na tradição
popular, quem viu passarinho verde não consegue esconder o grande
contentamento, fruto de mensagem amorosa. Na literatura antiga, há relatos em
que pássaros verdes, como os periquitos, eram usados para levar bilhetes entre
os noivos.
Somente
os moços podiam mandar recados. Jamais a iniciativa podia partir da moça. Seria
leviana, oferecida. Cabia-lhe apenas esperar o bilhete, mesmo que o coração
ardesse em paixão. Em nosso meio, ante o sorriso largo até as orelhas de uma
mocinha faceira que, repentinamente, denuncia grande contentamento, os mais
velhos lhe dirigem a pergunta que traz consigo quase uma exclamação: “Viu
passarinho verde?!”.
Idade
da loba corresponde à mulher de 40 anos, quando, supostamente, atingiria a
maturidade e tornar-se-ia dona de seu nariz. Há, todavia, certa confusão nesse
conceito. Idade da loba significa, na prática, um novo modo de ser da mulher,
um novo estilo de vida, um novo conceito de mundo, decorrente dos movimentos
feministas e da liberação sexual, a partir da década de 1960.
Até então,
somente o homem exercia o papel de lobo, de “caçador”, ficando a mulher numa
situação passiva, à espera da investida masculina. Mais que ter 40 anos,
reflete o comportamento de uma nova geração do sexo feminino, em função da
mudança de costumes, do ingresso no mercado de trabalho, da conquista de
direitos iguais aos homens e da busca de independência.
Chauvinista
é o que demonstra cego entusiasmo pelas glórias militares e patriotismo ou
grande devoção a uma pessoa ou causa. O termo vem de Nicholas Chauvin, soldado
francês que exaltava as façanhas de Napoleão e, na sua fanática dedicação,
acabou todo mutilado após vários combates.
A
partir da década de 1970, com os movimentos feministas e a consequente liberação
sexual da mulher, o adjetivo chauvinista assumiu sentido pejorativo, como sinônimo
de machista. A expressão lavava a alma das feministas, pois denominavam os
reacionários e incorrigíveis machistas com o título de porcos chauvinistas.
Esses
indivíduos ainda existem em todas as camadas sociais. Alguns de gravata, disfarçados
de cavalheiros. Há muito caminho a ser trilhado para a igualdade, de fato e de
direito. Enquanto houver o dia da mulher, do índio, da consciência negra, Lei
Maria da Penha, é sinal de que alguns podem mais e outros são esmagados. Sociedade
injusta, hipócrita.
Quando
a primeira mulher alcançou, pelo voto popular, a presidência da República, quis
ela ser chamada “presidenta”, o que provocou reação de setores da mídia. Por
que não “a presidente”, se é um substantivo comum de dois gêneros? – argumentaram.
Até a gramática é machista, pois diz que o masculino sempre prevalece sobre o
feminino. Abaixo a gramática, abaixo os machistas, abaixo os preconceitos. Por
uma mulher emancipada, cidadã.
*PROFESSOR
E ESCRITOR
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