quarta-feira, 6 de março de 2013



06 de março de 2013 | N° 17363
ARTIGOS - Cláudio Furtado*

A grelha ou a vida?

Homem leva tiro e morre. Motivo da morte: uma briga pela disputa de uma grelha, esta de fazer churrasco, assar salsichão, um pedaço de carne, uma coxa de galinha. Ouvi a notícia na Rádio Gaúcha enquanto seguia para o trabalho, na manhã chuvosa da última terça-feira. Logo me lembrei de uma grelha de churrasco que tenho, lá em casa, meio enferrujada, jogada num canto do pátio. Confesso que me senti mal, perdido, desanimado.

Claro que este crime da grelha não deve ter acontecido assim, no seco. Aqueles velhos e surrados ingredientes, como a bebida, uma disputa amorosa, brincadeiras de mau gosto, podem ter contribuído para a tragédia. Mas vocês já se deram conta como a vida tem valido pouco! Uma advogada me disse, certa vez, no seu trabalho diário com menores delinquentes, que não era rara a afirmação: “Matei o cara porque ele me olhou feio”. O cara, no caso, podia ser um chefe de família, um pai, um trabalhador, que olhou indignado para o guri assaltante. E simplesmente levou um tiro, e morreu.

Recentemente, Zero Hora publicou matéria sobre o crescente número de homicídios no Rio Grande do Sul, um aumento de 17% em relação a 2011.

Excluindo a questão da droga, responsável maior no ranking das agressões, furtos, roubos, prisões e mortes, arrisco uma lista, sem medo de errar, de situações banais, que resultam em conflitos graves, muitos com vítimas fatais: furto de boné e de pastel (casos recentes acontecidos em São Paulo, com mortes); tumulto entre vizinhos em razão de animais (aquele cachorro que não para de latir durante a madrugada); cortes de galhos de árvores que invadem o terreno alheio; foguetes em dias de futebol, principalmente comemorando gol em Gre-Nal; som elevado (este é comum durante as férias, nas praias). Não vamos esquecer, é lógico, as brigas amorosas, que não ficam atrás na lista dos BOs (boletins de ocorrências policiais).

No trânsito, então, é muito fácil brigar. E é fácil matar, e morrer também. Uma batidinha, um palavrão, um acionamento de alguém ao lado, e pronto, já está aberta a tampa do caixão. Então, meus amigos, vamos seguir o método, praticamente infalível, que tem ajudado muita gente a sobreviver: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. O segredo é contar até dez naqueles momentos de tensão. Eu já faço parte desta seita. Não quero valer menos que uma grelha enferrujada.

*JORNALISTA

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