06
de março de 2013 | N° 17363
ARTIGOS
- Fernando de Oliveira Souza*
Morrer com
dignidade
A
medicina é, dentre todas as profissões, a mais envolvida com as fantasias das
pessoas leigas, principalmente no que concerne à morte, contra a qual ela luta
diuturnamente e sempre acaba perdendo no longo prazo.
Dentre
as especialidades médicas, duas são particularmente envolvidas: o emergencista
e o intensivista. O primeiro costuma ser o “herói” ao atender pacientes do
trauma, por exemplo, que estavam muito bem até o acidente e podem ficar muito
mal, “à beira da morte” após o trauma, cabendo a este médico “salvá-los” numa
primeira instância.
O intensivista,
entretanto, é aquele que lida com todo o tipo de complicações, inclusive
daquele próprio paciente “salvo” pelo emergencista e continuamente é exigido em
decisões cruciais quanto à vida das pessoas, sendo por isso muitas vezes
tachado de vilão.
As
UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) foram “gestadas” no final do século 19,
durante a guerra da Crimeia (mais uma grande contribuição que as guerras sempre
proporcionam à evolução da medicina) e evoluíram sensivelmente durante o século
20, contribuindo significativamente para a diminuição da mortalidade dos
pacientes graves.
São
definidas como “unidades complexas dotadas de sistema de monitorização contínua
que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais
sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamentos intensivos tenham
possibilidade de se recuperar”.
Essa
última palavra – recuperar – é que faz toda a diferença. A medicina tem, com
todo seu armamentário diagnóstico, plena capacidade de estabelecer critérios de
quadros clínicos considerados irreversíveis, sem possibilidade de recuperação
do paciente. As UTIs não são para este tipo de paciente, embora muitas vezes as
famílias pressionem por sua internação.
São
os casos dos pacientes com doenças em fase terminal. Estes pacientes, se
pudessem escolher, certamente prefeririam estar entre seus entes queridos, se
possível em suas casas, do que num ambiente despersonalizado, portando uma
infinidade de tubos e acessos, prolongando seu sofrimento.
Morrer
em casa, nestes casos, por que não?, mas principalmente morrer com dignidade.
*MÉDICO
E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
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