terça-feira, 5 de março de 2013



05 de março de 2013 | N° 17362
CLÁUDIO MORENO

Homens e mulheres (19)

(41) Os que pensam que o brasileiro inventou o culto ao traseiro feminino não sabem que esta nobre parte do corpo sempre foi valorizada na tradição cultural do Ocidente – principalmente pelos povos do Mediterrâneo.

Na Grécia antiga, uma das representações de Afrodite mostrava a deusa erguendo displicentemente a parte de trás do seu manto para conferir, com ar satisfeito, a beleza de seu traseiro. Não por acaso, essa escultura, em que o próprio olhar da deusa conduzia o olhar do espectador, ficou conhecida como Afrodite Calipígia (“a de belas nádegas”).

Uma das saborosas histórias contadas por Ateneu, cronista de curiosidades, falava de duas irmãs de Siracusa que, para decidir qual delas era mais atraente, abandonaram as sutilezas e foram, sem o menor pudor, mostrar na beira da estrada o que tinham de melhor. Diante do primeiro rapaz que lhes agradou, ergueram – com uma desinibição bem brasileira – a parte de trás das vestes e pediram que ele decidisse qual era o derrière mais bonito. Maravilhado, ele escolheu uma delas, e seguiu o seu caminho com a cabeça tomada por aquela visão.

Ao contar ao irmão mais jovem a causa de sua perturbação, este o convenceu a levá-lo até lá no dia seguinte – e realmente lá estavam as duas, magníficas, com tudo ao vento. Refeita a pergunta – qual a mais bela? –, ele escolheu justamente a outra irmã, o que permitiu que a história terminasse num duplo casamento. Como os dois jovens tinham uma grande fortuna, as duas irmãs, agora ricas, erigiram naquele lugar um templo a Afrodite Calipígia, a quem deviam a sua felicidade e o seu sucesso social.

(42) Um gênero literário muito pouco estudado – talvez por ser tão breve e fugaz – é o grito de guerra, aquele brado que os soldados emitem no instante decisivo em que vão mergulhar no inferno das batalhas.

Ao longo de nossa história, os tipos mais cultivados geralmente ficaram entre o religioso e o patriótico, como “Em nome de Cristo!”, “Pelo rei e por São Jorge!” ou “Pátria e liberdade!”; não seria justo, no entanto, deixar no esquecimento o inusitado grito de guerra do Conde Caetano de Bourbon, pequeno personagem da história espanhola que nem seria mencionado não fosse por sua originalidade.

Casado com a infanta Isabel, filha da rainha Isabel II, nem pôde aproveitar sua lua-de-mel: acabada a cerimônia, o jovem casal estava chegando a Paris quando, na Espanha, uma revolução depôs a rainha-mãe.

Sem hesitar, Caetano despediu-se da jovem esposa e foi se juntar ao exército legalista, que se preparava para uma derradeira e infrutífera tentativa de resistir aos rebeldes – e ali, na batalha na ponte de Alcolea, em Córdoba, à frente de uma unidade de cavalaria, surpreendeu amigos e inimigos ao entrar em combate aos gritos de “Viva minha sogra!”. Seu exemplo, ao que se saiba, não encontrou seguidores.

Nenhum comentário: