02 de março de 2013 | N°
17359
NILSON SOUZA
Dentuça cinquentona
Mônica faz 50 anos neste domingo.
A garotinha dentuça criada por Mauricio de Sousa é uma espécie de Mafalda
brasileira, embora lidere a sua turma de meninos e meninas mais pela força
bruta do que pelos argumentos e pelo posicionamento político, que eram a
característica da genial criação do argentino Quino.
Com Mônica não tem muito diálogo:
escreveu, não leu, o coelho de pelúcia canta na orelha do insolente. Mas ela
também sabe ser divertida e terna. Por isso conquistou o coração de milhares de
leitores infantis – e também de muitos adultos.
A turma da Mônica é um achado,
pois reproduz jeitos e trejeitos das crianças e adolescentes brasileiros de
todas as classes sociais. Ainda que sejam inspirados nos próprios filhos do
autor (e ele tem 10), os personagens transitam por todos os setores da
sociedade. Quem nunca falou “elado” como o Cebolinha?
Quem não conhece uma Magali
comilona? Quem não convive com um Cascão na escola? Quem nunca identificou um
amigo com cara de Anjinho ou Franjinha? E quem não gostaria de ter à mão um
Sansão, o coelho azul, para castigar os abusados sem causar-lhes ferimentos?
As histórias de Mauricio de Sousa
são quase sempre ingênuas e até um tanto moralistas, mas encantam exatamente
pela semelhança com a vida real.
Mônica, apesar do seu
temperamento explosivo, é totalmente do bem – tanto que já recebeu o título de
embaixadora do Unicef por transmitir valores essenciais de convivência, como a
amizade, a solidariedade, o apreço pela educação e pela família. O Fundo das
Nações Unidas para a Infância a reconhece como defensora dos direitos das
crianças.
Ela e os demais personagens de
Mauricio saltaram das tirinhas dos jornais para as revistinhas e agora
espalham-se por diversas plataformas, incluindo televisão, cinema, internet,
videogames e até mesmo um parque temático que o desenhista mantém em São Paulo.
As histórias em quadrinhos foram
– e ainda são – a cartilha de alfabetização de muitas gerações. Este escriba,
por exemplo, aprendeu a ler por conta própria, antes de entrar na escola,
motivado pela curiosidade de ler os balõezinhos dos gibis que circulavam pela
casa paterna.
E que trocávamos na porta do
cinema. Os garotos de hoje custam a acreditar que íamos para a matinê (que era
como se chamavam as sessões da tarde) com pilhas de gibis debaixo do braço,
para trocá-los com outras crianças. Pode parecer meio ridículo, mas garanto que
era muito mais saudável do que entrar no cinema com um pacotão de pipocas e um
litro de refrigerante. Essa, infelizmente, a Magali venceu.
Bom, mas voltando à
aniversariante: Mônica e sua turma de amigos – graças ao talento de Mauricio de
Sousa – são dignos representantes da alegria e da irreverência do moleque
brasileiro.
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