sábado, 2 de março de 2013



02 de março de 2013 | N° 17359
NILSON SOUZA

Dentuça cinquentona

Mônica faz 50 anos neste domingo. A garotinha dentuça criada por Mauricio de Sousa é uma espécie de Mafalda brasileira, embora lidere a sua turma de meninos e meninas mais pela força bruta do que pelos argumentos e pelo posicionamento político, que eram a característica da genial criação do argentino Quino.

Com Mônica não tem muito diálogo: escreveu, não leu, o coelho de pelúcia canta na orelha do insolente. Mas ela também sabe ser divertida e terna. Por isso conquistou o coração de milhares de leitores infantis – e também de muitos adultos.

A turma da Mônica é um achado, pois reproduz jeitos e trejeitos das crianças e adolescentes brasileiros de todas as classes sociais. Ainda que sejam inspirados nos próprios filhos do autor (e ele tem 10), os personagens transitam por todos os setores da sociedade. Quem nunca falou “elado” como o Cebolinha?

Quem não conhece uma Magali comilona? Quem não convive com um Cascão na escola? Quem nunca identificou um amigo com cara de Anjinho ou Franjinha? E quem não gostaria de ter à mão um Sansão, o coelho azul, para castigar os abusados sem causar-lhes ferimentos?

As histórias de Mauricio de Sousa são quase sempre ingênuas e até um tanto moralistas, mas encantam exatamente pela semelhança com a vida real.

Mônica, apesar do seu temperamento explosivo, é totalmente do bem – tanto que já recebeu o título de embaixadora do Unicef por transmitir valores essenciais de convivência, como a amizade, a solidariedade, o apreço pela educação e pela família. O Fundo das Nações Unidas para a Infância a reconhece como defensora dos direitos das crianças.

Ela e os demais personagens de Mauricio saltaram das tirinhas dos jornais para as revistinhas e agora espalham-se por diversas plataformas, incluindo televisão, cinema, internet, videogames e até mesmo um parque temático que o desenhista mantém em São Paulo.

As histórias em quadrinhos foram – e ainda são – a cartilha de alfabetização de muitas gerações. Este escriba, por exemplo, aprendeu a ler por conta própria, antes de entrar na escola, motivado pela curiosidade de ler os balõezinhos dos gibis que circulavam pela casa paterna.

E que trocávamos na porta do cinema. Os garotos de hoje custam a acreditar que íamos para a matinê (que era como se chamavam as sessões da tarde) com pilhas de gibis debaixo do braço, para trocá-los com outras crianças. Pode parecer meio ridículo, mas garanto que era muito mais saudável do que entrar no cinema com um pacotão de pipocas e um litro de refrigerante. Essa, infelizmente, a Magali venceu.

Bom, mas voltando à aniversariante: Mônica e sua turma de amigos – graças ao talento de Mauricio de Sousa – são dignos representantes da alegria e da irreverência do moleque brasileiro.

Nenhum comentário: