06
de novembro de 2012 | N° 17245
DAVID
COIMBRA
Ser feliz por um momento
A
felicidade é diária. Não é semanal, não é mensal, não é anual, nem é o
resultado de uma vida.
Não.
A felicidade é uma obra das horas. Você consegue passar um par de horas felizes
vendo um filme no fundo do sofá, trinchando um churrasco com a família,
sorvendo um chope com os amigos, lendo um livro? Consegue?
Você
tem talento para ser feliz.
Porque
as semanas jamais serão perfeitas, como não serão perfeitos os meses ou os anos
e muito menos uma vida. Até mesmo um único dia dificilmente será perfeito. Mas
uma hora, sim, você pode fazer com que uma hora seja perfeita, e beber daquela
hora aos pouquinhos, como quem bebe licor de nozes.
O
CHOCOLATE DO GORDO
Você
já viu um gordo comendo chocolate? Coisa bem linda de se ver.
Havia
um gordo na redação do jornal, uma vez. Era um gordo muito gordo, impermeável a
regime. Um gordo convicto.
Bom.
Todas
as tardes ele comia um Chokito. Por volta das quatro horas, ia até o bar, pedia
o Chokito, recitava a propaganda, leite condensado, caramelizado, com flocos
crocantes... Mas não comia no balcão. Voltava para sua mesa. Então,
confortavelmente sentado, ele olhava para aquele Chokito e sorria.
Segurava
a barra com uma mão e, com a outra, descascava a embalagem, como se estivesse
despetalando uma flor delicada. Quando o Chokito estava com o torso nu, ele lhe
lançava mais um olhar de contentamento. Analisava-o detidamente, virando-o para
um lado e para outro e, por fim, metia-lhe uma dentada. Enquanto mastigava, o
gordo ficava olhando para o Chokito mordido. Mastigava e olhava e dava outra
mordida e vez em quando suspirava. Ao cabo da operação, ele dobrava
criteriosamente a embalagem vazia e a depositava na cesta de lixo com carinho. Só
aí retomava ao trabalho.
Eu
via aquele gordo fazendo isso todas as tardes e pensava: eis um homem que, por
um momento, foi completamente feliz.
O
PRIMEIRO GOLE
A
felicidade é assim. É o Chokito do gordo, é o sorriso do filho, é o primeiro
gole no chope gelado, é um gesto de afeto.
Schopenhauer
dizia que a felicidade é a ausência de dor. E é. Depois dele, um homem que
bebeu dele, Sigmund Freud, disse numa entrevista que não canso de recordar e
citar:
“Não
permito que nenhuma reflexão filosófica me tire a alegria das coisas simples da
vida”.
Aí está.
As coisas simples da vida. A hora do dia. O momento.
Esse
é o meu recado para os colorados, depois dos 3 a 0 para o Náutico do fim de
semana: o que importa a imensidão do futuro, se a felicidade pode ser colhida
no balcão de vidro da lancheria?
A
vida inteira pode ser mais simples do que um campeonato de futebol.
A
dupla em 2013
O
que poderá ser aproveitado de 2012 para Grêmio e Inter em 2013? Os dois
goleiros são bons. Os quatro laterais nem tanto, mas Júlio César e Fabrício
podem resolver os problemas do lado esquerdo.
Zagueiros?
Werley é uma afirmação. Moledo ainda não. Índio e Gilberto Silva são ótimos,
porém veteranos.
O
meio-campo do Grêmio é muito bom, mas não tem reservas, nem meias de penetração.
O do Inter também pode ser muito bom, desde que se defina quem vai jogar lá.
No
ataque o Inter tem mais recursos – Dagoberto, Damião, Forlán, Cassiano, He Man.
Ao Grêmio falta de tudo na frente, apesar dos esforços de Moreno e Kléber.
Olhando
assim, o Inter parece mais bem equipado do que o Grêmio para 2013. Então, como
explicar 2012?
Nenhum comentário:
Postar um comentário