03
de novembro de 2012 | N° 17242
NILSON
SOUZA
Furacão de mentiras
Mal
os primeiros ventos do furacão Sandy chegaram à costa norte-americana e a
internet já começou a ser inundada por imagens fabricadas pela imaginação dos
internautas para conquistar as atenções do mundo a partir do episódio climático.
Assim, ganharam evidência fotos tão belas quanto inverossímeis, como a de tubarões
nadando nas ruas de Nova York ou a da estátua da Liberdade ameaçada por nuvens
apocalípticas.
Tudo
falso. Isso que a tormenta era real, causou mortes, transtornos e estragos
consideráveis na infraestrutura das principais cidades da Costa Leste. E as
imagens verdadeiras da tragédia eram suficientemente impressionantes, ninguém
precisava inventar nada para conquistar audiência.
Sei
que tem gente que se diverte fazendo montagens de tudo para colocar nas redes
sociais e provocar os amigos. De vez em quando, também acho graça de alguma
sacada bem-humorada. Mas não entendo a fraude. Como alguém pode manipular uma
imagem e repassá-la como se fosse verdadeira? Até se compreende que estelionatários
cometam tais atos para levar vantagem ou mesmo que marqueteiros políticos
tentem convencer os eleitores com engodos.
São
atitudes reprováveis, mas compreensíveis. O que não dá para entender é a fraude
pelo simples prazer de enganar. Tudo bem, já ouvi falar em mitômanos, pessoas
com tendência mórbida à mentira. A internet certamente potencializa o poder de
gente assim. Mas o fraudador sequer saboreia o efeito de sua fraude, a não ser
quando algum veículo de comunicação cai na armadilha.
Por
isso o jornalismo é, cada vez mais, o exercício do ceticismo. Companheiros de
ofício, atenção redobrada! Não acredite em tudo o que você vê. Não acredite em
tudo o que você ouve. Desconfie sempre. E não sou eu quem está dizendo isso, é o
reconhecido jornalista Bill Kovach, do New York Times, coautor do célebre
Elementos do Jornalismo.
Em
recente entrevista divulgada pela imprensa brasileira, ele afirmou: “Se você é um
jovem jornalista ou pretende ingressar na profissão, deixo duas dicas: seja
curioso e cético. É preciso fazer perguntas constantemente. E toda vez que alguém
te contar algo, pense: como essa pessoa sabe isso? Ela consegue me mostrar de
onde veio a informação? Será que trabalha para alguém que paga a ela para
espalhar essa informação? É preciso continuamente documentar o que se vê e se
ouve, não acreditar em qualquer coisa”.
Temos
que incluir neste rol de desconfianças as imagens divulgadas pela internet. Os
falsificadores são habilidosos, fazem montagens verdadeiramente convincentes,
constroem cenários virtuais que parecem mesmo tirados da realidade. E se
escondem no anonimato da rede.
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