21 DE JULHO DE 2020
CRESCIMENTO NA CRISE
Clubes de assinaturas ganham mais sócios
Com as restrições para o funcionamento de serviços e a circulação de pessoas - e muito por causa desses dois fatores também -, o período de pandemia de coronavírus tem representado bom incremento nas vendas para um nicho específico do mercado: o dos clubes de assinaturas.
Vinhos, cervejas, livros, brinquedos, rações para pets, lingerie e outros itens são enviados todos os meses para os associados, representando distração e facilidade de acesso durante os forçados períodos de permanência em casa. O elemento surpresa é um dos principais atrativos do modelo de negócio: o sócio sabe por qual tipo de produto está pagando, mas, em geral, desconhece especificidades.
Os cinco sócios da Tag Experiências Literárias, iniciada há seis anos e bem estabelecida, temeram pelo futuro quando o coronavírus alcançou o Brasil. O clube de livros comercializa dois tipos de planos, com títulos inéditos no país ou indicados por curadores.
Em março, último "retrato" da empresa no período de pré-crises sanitária e econômica, 46 mil kits foram despachados para os sócios, marca espetacular em um país que tem o setor editorial enredado em situação ruim há tempo. No mesmo mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de pandemia.
- Como todo mundo, estávamos com muito medo. "O que vai acontecer? A economia vai colapsar, além da saúde?", pensamos. O livro, digamos, é algo supérfluo, não é essencial - recorda Álvaro Englert, 31 anos, sócio- diretor responsável pelas áreas de Recursos Humanos e Logística. - Mas pensamos também que as pessoas estariam mais em casa, teriam mais tempo livre.
De lá para cá, a empresa teve acréscimo de cerca de 15% na carteira de clientes, o que representa em torno de 7 mil novos associados.
- O livro tem um fator antiansiedade, faz você escapar daquela realidade que está tão estranha. Achamos que a Tag virou uma grande companheira das pessoas - opina Englert. - Nunca comemoraríamos uma pandemia, mas não temos do que reclamar do momento atual porque estamos indo superbem.
O mês de despacho mais frenético é julho, quando a Tag está comemorando seu sexto aniversário: mais de 53 mil caixinhas de Tag Inéditos e Tag Curadoria chegaram aos assinantes. Mimos literários e revistas completam os pacotes. Mudanças nos ciclos de planejamento se mostraram eficazes - antes trimestrais, passaram a ter avaliações quinzenais.
Publicidade
A proatividade deve ser uma característica fundamental de quem habita o ambiente do e-commerce. Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abccom), explica que, devido à grande concorrência, é necessário investir em mídia e conteúdo, sensibilizando o consumidor para o seu produto. Trata-se, segundo ele, de um exercício intenso de captação.
- O que puxou também o aumento de vendas dos clubes foram as próprias lojas virtuais de assinaturas aproveitando que tinha um número muito alto de pessoas comprando pela primeira vez na internet, em supermercado e farmácia, por exemplo. Os clubes conquistaram esse público - observa o presidente da Abccom.
Inaugurado há um ano, o Clube das Pitayas se apresenta com o slogan "revolucione a sua gaveta de calcinhas". À frente da iniciativa estão os irmãos Álvaro, 24 anos, e Luiza Bulhões Olmedo, 28 anos. Há duas opções de planos mensais, que incluem uma ou duas calcinhas, além de um brinde - já foram enviados ímãs de geladeira e histórias em quadrinhos - e um encarte com a mulher homenageada do mês.
No início da pandemia, registraram-se desistências, mas, com a contrapartida de um maior investimento, os microempresários conseguiram reverter as baixas na clientela. Depois de renovar o site, ampliar métodos de pagamento e criar uma newsletter, o Clube das Pitayas contabiliza agora um número maior de assinantes.
- Começamos a ver uma série de novas assinantes com interesse. De abril para cá, crescemos mais do que no final do ano passado e no início deste ano - constata Álvaro Olmedo.
O apelo da investida está de acordo com o momento presente. Com os pontos comerciais não essenciais fechados em diversas cidades, o clube aposta no conceito do aconchego do lar.
- Nos baseamos na ideia de receber calcinhas novas e confortáveis no conforto da sua casa - detalha Olmedo.
O Pitaya trabalha com multimarcas. De preferência, os fornecedores são do sul do Brasil ou locais. Ao envolver um artigo tão íntimo do vestuário, a transação ultrapassa o relacionamento entre vendedores e compradoras. Olmedo afirma que não tem assinantes, mas amigas. A motogirl responsável pelas entregas na Capital já é conhecida das clientes.
LARISSA ROSO
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