23 DE JULHO DE 2020
IVERMECTINA E HIDROXICLOROQUINA
Medicações controversas são compradas pelas prefeituras
Prefeituras gaúchas seguem investindo na distribuição gratuita de medicamentos sem comprovação científica de eficácia para o tratamento da covid-19. Anúncios de dispensa de licitação e manipulação das fórmulas em farmácia da administração municipal estão entre as estratégias de três cidades que já disponibilizam ou estão em meio a trâmites para permitir o acesso da população às controversas hidroxicloroquina, indicada para a malária e doenças reumatológicas, e ivermectina, antiparasitário utilizado para o combate a vermes, piolhos e sarna.
Igrejinha, no Vale do Paranhana, autorizou a produção dos dois medicamentos na farmácia de manipulação municipal desde a última segunda-feira. Até a tarde de ontem, nenhum pedido havia sido feito, mas o processo está estabelecido. Após passar por avaliação no Centro de Atendimento à Covid, o paciente com suspeita de infecção por coronavírus terá o exame de PCR coletado. Segundo a secretária da Saúde, Simone do Amaral, o médico, se julgar que o doente pode se beneficiar de um tratamento precoce, fará um eletrocardiograma e encaminhará exames laboratoriais naquele momento. O profissional informará que há a possibilidade de tomar esses medicamentos específicos e, se o paciente manifestar interesse, assinará termo de consentimento.
Quando o resultado ficar pronto, em cerca de 72 horas, o paciente será comunicado. Em caso de positivo para coronavírus, a prescrição será encaminhada para a farmácia, e um familiar poderá retirá-la, gratuitamente. Em casos específicos, a entrega poderá ser feita a domicílio. Ao custo de R$ 19,5 mil, foram adquiridos insumos para cerca de 750 pacientes.
Opção
Questionado sobre a falta de estudos robustos que sustentem o uso dessas drogas em pacientes com covid-19, Helder Fernando Cunha dos Santos, diretor-técnico da pasta, alegou que a decisão foi baseada em posicionamentos do Ministério da Saúde, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira.
- Chega um determinado momento em que você tem de fazer algo com seus pacientes. Optamos por fazer isso - justifica Santos, que alega, entretanto, diferentemente da secretária da Saúde, que o médico tem liberdade para ofertar a possibilidade de uso.
- Como entidades máximas que regem a saúde e a medicina do país nos dão essa possibilidade, nada mais justo do que deixar os médicos à vontade para oferecer a medicação. Eles têm autonomia - frisa o diretor.
Nas serranas Bento Gonçalves e Caxias do Sul, mesmo que aleguem que a decisão de usar as medicações para tratamento precoce da covid-19 é uma decisão de médico e paciente, os municípios, ao comprarem os remédios, aderem a um novo protocolo clínico-farmacológico. Enquanto em Bento Gonçalves uma parte das medicações como hidroxicloroquina e ivermectina já foi adquirida, em Caxias do Sul foi publicado, no Diário Oficial, aviso de dispensa de licitação para compra dos fármacos. A medida permite o uso ambulatorial e hospitalar em pacientes que apresentarem sintomas iniciais da doença.
Em Bento Gonçalves, o edital foi por dispensa de licitação e já há contrato firmado, sendo que foram comprados 75 potes com seis cápsulas cada de hidroxicloroquina ao custo de R$ 1.650. A medicação é destinada a pacientes dos novos leitos da UPA 24 horas. Em relação à ivermectina, a compra é de 12 mil comprimidos, com investimento de R$ 28.320.
Aval
O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), que também responde pela Secretaria Municipal da Saúde, ressalta que o médico prescreverá o medicamento com o aval do paciente:
- Estamos tratando do direito de escolha do profissional médico em poder prescrever o tratamento que entender adequado ao seu paciente, que tem o direito de optar ou não por este tratamento. Cabe ao poder público, no caso, ter as medicações em sua farmácia para que o cidadão, dotado do desejo e do receituário médico, tenha acesso.
ALINE ECKER E LARISSA ROSO
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