quinta-feira, 16 de julho de 2020


16 DE JULHO DE 2020
DAVID COIMBRA

Felipe Neto surge como novo nome da esquerda no Brasil


O New York Times postou ontem, em seu site, um vídeo de sete minutos do "influencer" brasileiro Felipe Neto em que ele compara Bolsonaro a Trump e afiança que Bolsonaro é muito pior. É claro que o Times, que odeia Trump, adora fazer esse tipo de publicação, mas, ainda assim, trata-se de uma façanha do jovem Felipe Neto. Mais do que popularidade, ele ganhou prestígio.

Eis um fenômeno a se prestar atenção. Felipe Neto está se cristalizando como herói da esquerda brasileira, e em algum tempo não duvido que se transforme em um candidato viável a algum cargo maior. Presidência da República, quem sabe? Quem sabe? Em 2014, quando Dilma e Aécio disputavam o segundo turno, quem poderia dizer que Bolsonaro seria o presidente em 2018? E, antes disso, quem arriscaria que Dilma sucederia a Lula? Experiência, currículo ou conhecimento, nada disso é condição sine qua non para ser presidente da República, no Brasil.

Felipe Neto é youtuber há 10 anos. Tem 38 milhões de seguidores, é o segundo youtuber mais visto do mundo. É natural que toda essa gente esteja envelhecendo com ele. Ou seja: logo, a linguagem adolescente de Felipe Neto não alcançará os novos adolescentes que estão surgindo, ao mesmo tempo em que deixará de interessar os que não são mais adolescentes. Felipe Neto, assim, de forma inteligente, fez um movimento de Roberto Carlos: mudou na direção de seu público, tornou-se adulto.

Essa metamorfose se deu nas últimas eleições. Felipe Neto aderiu ao "Ele não" e viu-se coberto de até então inéditos elogios da esquerda. Percebeu que esse era o caminho e por ele enveredou. Usou uma plataforma mais afeita à opinião, o Twitter, para apresentar essa segunda persona. Transformou-se num atento vigilante do politicamente correto, uma espécie de juiz virtual do novo moralismo, além de acérrimo crítico de Bolsonaro. Funcionou. Semanas atrás, entrevistamos Jean Wyllys no Timeline e ele citou Felipe Neto como uma alternativa da esquerda. Mesmo que Jean Wyllys não tenha mais tanta relevância, ele representa uma ala desse setor da sociedade. Sua opinião é a mesma de muitas lideranças dos partidos chamados progressistas. Isto é: o nome de Felipe Neto já circula com boa fluência nesse meio.

Depois da repercussão de seu vídeo no New York Times, ainda nessa quarta-feira, Felipe Neto postou a seguinte mensagem no Twitter:

"Eu não só não tenho interesse em me candidatar em 2022, como eu nem terei a idade mínima necessária por lei".

Quem conhece política sabe o que uma declaração dessas significa: Felipe Neto não será candidato; ele já é.
DAVID COIMBRA

Nenhum comentário: