29 DE JULHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
UM ALERTA AOS PREFEITOS
O modelo de distanciamento controlado concebido no Rio Grande do Sul tem sido até o momento a melhor solução disponível para enfrentar o avanço do novo coronavírus. A despeito de eventuais contestações, o plano fez o Estado, apesar de o quadro inspirar cuidados, ter números não tão trágicos quanto os observados em outras unidades da federação. Ajudou a evitar, com a colaboração dos gaúchos, que se instalasse uma situação fora de controle que poderia tornar incontornável a pressão sobre o sistema de saúde, com quantidades ainda maiores de mortes.
Fruto de um amplo entendimento, foi desenhado pelo Estado um engenhoso mapa com indicadores que determinam quais atividades podem abrir ou fechar, em que regiões e quando, de modo a gerenciar com o máximo de previsão o tratamento às vítimas do vírus. Em nenhum momento, desde a sua implementação, houve a promessa ou a ilusão de que o modelo seria capaz de debelar rapidamente a pandemia no Rio Grande do Sul. Esse objetivo dificílimo foi alcançado em poucos países, como Nova Zelândia e Vietnã, mas seria um resultado improvável de ser obtido em qualquer parte do Brasil, por uma série de razões - geográficas, culturais, socioeconômicas e políticas. Mas, dentro do possível, o plano vem cumprindo a sua missão original, como mostram as estatísticas, a ponto de servir de inspiração para estratégias similares, como a adotada em São Paulo.
Com o passar dos meses, e a compreensível angústia pelo agravamento da situação no Estado nas últimas semanas, o modelo vem sendo questionado e até desprezado, tachado como ineficaz. Ele, de fato, não é perfeito, porque naturalmente seria incapaz de prever e dar resposta definitiva a todas as situações particulares em um território tão diverso quanto o Rio Grande do Sul. Observe-se, porém, que, no combate ao coronavírus, tudo é muito novo e ninguém - nenhum país, nem a Organização Mundial da Saúde - demonstrou até agora ter a solução ideal pronta. Todos os métodos são construídos no dia a dia e, apesar das imperfeições e eventuais falhas, é melhor do que nenhum plano, como ocorre na esfera federal.
Desde o início, em razão de seu ineditismo, o modelo de distanciamento controlado vem passando por mudanças calculadas e calibragens. No momento, discute-se mais uma, de oferecer mais autonomia aos prefeitos. A hipótese é sensata, a princípio. São os prefeitos os que melhor conhecem e podem gerenciar com mais precisão as questões específicas de seus municípios. Além disso, o movimento pressupõe que muitos prefeitos deixariam de se escudar em terceirizar responsabilidades por medidas impopulares e compartilhariam com o governo do Estado o ônus de medidas que gerem contrariedade mas ajudem a reduzir a circulação do vírus.
Mas é preciso deixar um alerta. Se os gestores municipais não tiverem pulso firme e independência e cederem a pressões localizadas e imediatistas, sempre mais agudas que as vindas de outras esferas administrativas, poderão ser levados a decisões que colocarão em risco a vida de seus cidadãos. O melhor encaminhamento, portanto, passa, como sempre, pela sensatez e responsabilidade. O mapa do distanciamento e suas premissas devem seguir como principais guias. Mas o modelo não se sustenta por si se não tiver a compreensão, o apoio e a adesão de todos. As outras alternativas extremas - determinar um lockdown generalizado, como houve na Itália e na Espanha, ou liberar geral - são custos altos demais para se pagar para ver.
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