21 DE JULHO DE 2020
CARLOS GERBASE
Uma estrada que nunca termina
Vale tanto para um professor de 61 anos, como eu, quanto para um jovem aluno do Ensino Médio: a educação é uma estrada que nunca termina. Não importa se a olhamos no início da viagem, quando ela parece tão longa, ou já perto do seu final, quando ela se mostra assustadoramente curta. Não é uma questão de humildade. É apenas bom senso. A complexidade do mundo contemporâneo não permite uma visão simplificadora ou dogmática da vida. Simplificações apressadas e dogmas irredutíveis são inimigos mortais da educação. As escolas deveriam evitá-los ao máximo.
Isso não significa que uma pessoa não construa suas convicções ao longo do trajeto. Algumas delas podem ser bem sólidas e merecem ser defendidas com vigor. Contudo, estar convicto não significa estar cem por cento certo. Acreditar em si mesmo não pode levar ao desprezo da opinião contrária, ou do sentimento alheio. O mundo não funciona de forma binária. O mundo é perigoso e, como definiu um amigo, às vezes nos deparamos com uma curva mal feita numa pista escorregadia. Justo quando a viagem parece estar tranquila e estamos simplesmente curtindo a paisagem, o acidente acontece. A lição a ser aprendida é: uma estrada nunca é totalmente segura. E lá vamos nós, mais uma vez, admitir o erro e tentar não repeti-lo.
Nesses tempos tão assustadores da pandemia, muitos professores e alunos estão fazendo mágica para que a educação formal continue. Infelizmente, nem todos têm acesso aos mágicos truques digitais de comunicação, e nada é mais triste que uma vida vazia de cultura e educação. Tenho uma modesta sugestão para estes dias sombrios: ler. Ficção, não-ficção, divulgação científica, ensaios, livros didáticos e gibis. Da mais complexa filosofia à mais simples diversão. (Jamais esquecendo que a filosofia pode ser muito divertida.) O que estiver disponível na forma de palavras.
Adoro filmes e séries de TV, mas o que faz meu cérebro esquentar é mesmo um bom texto. Uma boa história, um bom argumento, uma boa descrição que um cientista faz da realidade são, ainda, os principais pilares da educação. A linguagem verbal provocou o grande salto cognitivo da nossa espécie, há pelo menos 50 mil anos. E continuamos aprendendo. As bibliotecas estão fechadas, mas a internet tem bilhões de textos, de todos os tipos e tamanhos, para serem descobertos. A educação nunca termina. A estrada continua. Ainda bem.
CARLOS GERBASE
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