segunda-feira, 13 de julho de 2020


13 DE JULHO DE 2020
ARTIGOS

A MORAL DO BRASILEIRO É CIRCUNSTANCIAL

A repercussão dos pagamentos bloqueados do auxílio emergencial, sendo 86 mil de proprietários de veículos acima de R$ 60 mil, 74 mil de sócios de empresas, 23 mil com benefício fiscal no Exterior, 21 mil com embarcações de alto custo e 17 mil mortos representados por vivos espertos, é manifestação da ética desses cidadãos brasileiros.

Ética é o conjunto de princípios e valores que escolhemos para orientar nossa vida, enquanto a moral é a prática, é o ato. A pandemia apenas possibilita que nosso agir moral se manifeste, seja solicitando auxílio emergencial que não temos direito nem necessidade, seja discriminando idosos, seja majorando preços ou buscando salvar a própria pele em detrimento do outro.

Os comportamentos nas diversas sociedades e culturas são ensinados através de uma sólida formação humana e educação nas escolas. No caso brasileiro, sociólogos apontam que o problema está intimamente ligado aos valores éticos dos brasileiros que, por uma questão cultural, têm enorme dificuldade em aceitar limites e cumprir deveres e regras.

Essa dificuldade se dá porque a regra nos iguala ao outro e o brasileiro reluta em ser tratado da mesma maneira que os demais; ele quer tratamento VIP. É por essa razão que nossa ética tem um padrão duplo: o que eu exijo do outro não é o que exijo de mim. É bom quando me beneficia, mas é ruim quando contempla o outro. Portanto, nossa moral é circunstancial. O outro é corrupto, eu não.

Já a ética, no campo filosófico, é relativa à sociedade em que se vive e se fundamenta num ponto de vista universal. É um produto da vida social que tem a função de promover valores comuns aos membros da sociedade e exige que extrapolemos o "eu" e o "você" para chegarmos a propósitos universais. Ela é a busca da identificação de comportamentos adequados, mas não na intimidade da consciência particular de cada um, e sim no coletivo, no debate, na discussão, na argumentação.

Podemos resumir que a ética é "vergonha na cara", é a inteligência compartilhada a serviço da convivência. Ela implica a capacidade de vida coletiva. A ética é a perspectiva de uma vida boa, para e com outrem, em instituições justas. A justiça existirá se a fizermos. Eis o problema humano. 

Doutor em Educação e professor da Universidade Feevale gabrielg@feevale.br
GABRIEL GRABOWSKI, DOUTOR EM EDUCAÇÃO E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEEVALE

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