sábado, 25 de julho de 2020



25 DE JULHO DE 2020
REPORTAGEM

CRISE PODE IR ATÉ 2033

A desigualdade social do Brasil deve se aprofundar nos próximos anos pós-coronavírus. Com uma taxa de desemprego de 13,1%, o país vê cada vez mais a força de trabalho reduzir - só em uma semana, 1,5 milhão de pessoas ficaram desocupadas, segundo a Pnad Covid19, do IBGE.

Para piorar, as contas públicas do governo federal brasileiro devem ficar no azul apenas em 2033 ou 2034, aponta estudo da Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI) divulgado em junho.

Por conta dos investimentos no combate à pandemia e da perda de arrecadação de impostos com a paralisação das atividades, a União deverá ter um déficit de R$ 912,4 bilhões nas contas públicas em 2020.

Segundo Felipe Salto, diretor-executivo da IFI, a melhora do PIB e das receitas e a contenção de gastos devem diminuir aos poucos o déficit, mas não de forma imediata e intensa. Para agilizar o equilíbrio fiscal, ele sugere reforma administrativa ou aumento da carga tributária e, para evitar a desigualdade, o fortalecimento de programas de transferência de renda.

- É possível que haja uma piora da desigualdade. O Estado deve atuar para dirimir esse fenômeno. Isso pode ser feito melhorando a qualidade dos programas de transferência de renda ou até mesmo ampliando esses recursos. Nesta segunda hipótese, seria importante obter financiamento cortando orçamento do andar de cima, a exemplo da fatia de dinheiro público que deixa de ser arrecadada com as desonerações tributárias, isenções e regimes especiais de tributação. Essa troca de renúncias fiscais por aumentos nas transferências de renda aos mais pobres seria muito salutar - afirma Salto.

Na educação, uma geração de estudantes será afetada pela pandemia. Para além do abismo acentuado pelo ensino remoto, a expectativa é de que haja uma migração considerável de alunos de escolas privadas para escolas públicas, pressionando a demanda por serviços do Estado. A fatura deve ser cobrada nos próximos anos, aponta Iana Gomes de Lima, professora da Educação da UFRGS e pesquisadora de políticas e gestão da educação.

- Vamos ter um aprofundamento das desigualdades. Já há salas superlotadas em escolas, mas teremos ainda mais crianças em salas de aula para um único professor, que terá de dar conta de tudo. Quem terá menos acesso são os mais pobres, negros e indígenas, que historicamente ficaram alijados do processo educacional. A grande chave, neste momento, é investir em educação pública, passando por salário de professores, formação docente e infraestrutura de escolas - defende Iana.

Enquanto o Brasil não se ajusta, cada um se vira como pode. Com a pandemia, fecharam-se as escolas e os centros de convivência onde ficavam os seis filhos de Daniela Rodrigues, 32 anos. Mãe solteira, ela sobrevive do auxílio-emergencial, do Benefício de Prestação Continuada (BPC) que recebe para cuidar de um filho no espectro autista e de doações.

- Quando chega leite, a gente dá para todas as crianças. Conforme vai acabando, dou só para os menores. Me viro daqui, dali, dou um jeito sempre. Mas não dá para reclamar, tem gente que está pior - ela afirma.

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