sábado, 18 de julho de 2020



18 DE JULHO DE 2020
RESTRIÇÕES EM PORTO ALEGRE

"Próximo passo é lockdown"

Nelson Marchezan foi enfático em pronunciamento: se não cair a circulação de pessoas, Capital pode parar na próxima semana

Após ouvir de gestores de hospitais que há pouca margem para novas ampliações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em Porto Alegre, em reunião realizada na sexta-feira, o prefeito Nelson Marchezan admitiu a possibilidade de a Capital adotar lockdown nos próximos dias caso o índice de isolamento social não aumente e force diminuição no ritmo de internações de pacientes graves.

Marchezan argumentou que a maior parte dos administradores de hospitais informou estar "no limite" do atendimento, com dificuldades para conseguir novos profissionais habilitados, equipamentos e medicamentos, a exemplo de anestésicos. Isso poderia exigir a imposição de medidas ainda mais rigorosas de restrição à circulação "na semana que vem", afirmou o prefeito quase ao final da live iniciada pouco depois das 17h.

A intenção é adotar essa medida com uma mínima base de apoio social, incluindo população, imprensa e representantes do empresariado. Por isso, na reunião com os gestores hospitalares, pediu que eles ajudem a conscientizar as pessoas sobre a gravidade do atual estágio da pandemia. Em seguida, se reuniu com líderes de entidades empresariais para detalhar a situação e preparar o caminho para eventual lockdown.

A avaliação é de que não há como continuar acompanhando o ritmo de hospitalizações pelo coronavírus desde que a covid-19 passou a ganhar força na primeira quinzena de junho - mesmo com acréscimo superior a 220 vagas de terapia intensiva. Na sexta, havia 748 leitos operacionais na cidade, contra 525 disponíveis no final de março. Segundo Marchezan, Porto Alegre é hoje a segunda capital com maior proporção de vagas de UTI por habitante.

O problema é que, apenas ao longo da última semana, o avanço na demanda por UTIs foi de 24% em um cenário já sobrecarregado. Na tarde de sexta, havia um recorde de 260 pessoas com covid-19 sob tratamento intensivo, e em meio a uma ocupação geral de 88,8%. Essa quantidade supera o teto intermediário de 255 leitos previstos para covid no plano de contingência, e projeções indicam que o limite máximo de 383 pode ser ultrapassado no dia 30 de julho se a atual velocidade do vírus se mantiver.

No momento, mesmo sob a vigência de decretos que restringiram o funcionamento de setores econômicos como comércio e indústria, além de impor limitações à circulação como o bloqueio de parques e de parte do vale-transporte, o índice de isolamento entre a população segue em patamares insuficientes para cortar as linhas de transmissão do coronavírus.

A taxa de isolamento em Porto Alegre ficou em 47,8% na quinta- feira, enquanto a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) entende que o mínimo necessário para reduzir a velocidade de contágio seria 55%.

Gre-Nal

Marchezan argumentou que a situação atual justifica o veto ao clássico Gre-Nal marcado para a próxima quarta-feira.

- É por isso que tivemos de dizer não à realização dos jogos do Campeonato Gaúcho em Porto Alegre. Qual cidade gaúcha ou brasileira não iria gostar de ter um Gre-Nal no seu território? Mas essa não é uma mensagem adequada ou respeitosa à situação que estamos impondo aos profissionais da saúde e a todos os trabalhadores e empresários da cidade - justificou Marchezan, que ainda apelou para que as pessoas fiquem em casa. - Ou diminuímos a circulação a ponto de conter a proliferação do vírus, ou os médicos terão de decidir quem vai viver e quem vai morrer.

MARCELO GONZATTO*

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