11 DE JULHO DE 2020
FABRO STEIBEL
A MODA COVID E A SUA PRIVACIDADE
Mais de 50 países já lançaram aplicativos de celular para verificar a proximidade com pessoas infectadas pela covid-19. Crescem agora soluções de vestir (os wearables), que permitem controlar a pandemia misturando roupas, acessórios, computadores e internet. O próximo desafio é claro: descobrir como desenvolver essa tecnologia sem comprometer a privacidade.
A tecnologia de vestir é uma promessa antiga do universo da Internet das Coisas (IoT). O mercado de werables ainda é pequeno, mas cresce rápido. No Brasil, ano passado, foram vendidas mais de 300 mil unidades desse tipo de tecnologia. Parece pouco, mas os números são quase três vezes maiores do que os do ano anterior.
Há wearables com os quais você já deve ter cruzado por aí, como os relógios inteligentes da Apple e as pulseiras fitness que monitoram seus exercícios. A tecnologia disponível é muito mais limitada do que a do celular (até porque a bateria é sempre limitada), mas o que temos no mercado já nos permite imaginar a quantidade de dados que geramos sobre nós sem perceber.
Estamos vendo uma nova onda de wearables inspirados nos desafios do coronavírus. Atletas da NBA adotaram anéis inteligentes para medir a saúde física, e há pulseiras que agora vem com oxímetro para antever quadros graves de infecção. Uma solução simples e interessante foi proposta pela Nasa: um colar que vibra quando você vai encostar a mão no rosto. Já se sabe de testes clínicos de vacinas que vão exigir aos pacientes uso de pulseiras para monitorar sintomas, e de governos, como o de Singapura, que criou um chaveiro mandatório para quem sair na rua tendo risco de exposição ao vírus.
Com a popularização da tecnologia, acende-se a luz amarela sobre formas de combater o vírus e proteger a nossa privacidade. Uma pesquisa realizada por iniciativa da Anistia Internacional mostrou que aplicativos de celular criados por governos para monitorar o vírus representam, em diversos países, uma grave ameaça aos nossos direitos. O estudo mostra que está em risco quem mora em países que gozam de confiança do cidadão, como a Noruega, tanto quanto os cidadãos de países menos transparentes, como Kuwait. Não à toa a Noruega repensou sua posição e não só abandonou o aplicativo como decidiu deletar todos os dados coletados.
Grandes crises tendem a justificar o aumento da vigilância sobre nós. Foi assim no 11 de Setembro e é assim nessa pandemia que atravessamos. Mas, passada a urgência, a tendência é o monitoramento em massa virar o novo normal. Foi o legado do ataque às Torres Gêmeas, que levou o governo norte-americano a vigiar toda comunicação mundial, fatos revelados por Edward Snowden que afetaram inclusive o Brasil, e é nessa linha que a China está justificando o monitoramento feito a quem mora em Hong Kong. Há formas seguras de criar tecnologias que sirvam ao nosso bem. Mas, antes que a moda de wearables pegue de vez, ou que seja um anel a solução infalível para controlar a pandemia, cabe lembrar: o vírus vai passar, mas nossos dados tendem a permanecer por aí.
FABRO STEIBEL
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