17 DE JULHO DE 2020
ARTIGOS
SOLIDARIEDADE E CONVIVÊNCIA
No meio desta terrível pandemia, causada por um inimigo comum, poderoso e agressivo, brotam a cada instante, em nosso país, do Alto Leblon ao Fundo da Grota, atos comuns de puro amor ao próximo. Gestos de mãos estendidas ofertam amor na doação de máscaras, alimentos, roupas, carinho, conforto. É a bendita "solidariedade", um olhar para o próximo, garantia de sobrevivência para muitos, crescimento espiritual, corações aquecidos, sopro de esperança para um mundo melhor, mais justo.
A vida é construída por uma sucessão de gestos. Às vezes é bem mais cômodo mandar uma doação para alguém distante, lá do outro lado do mundo, certamente um ato igualmente nobre, do que entregar pessoalmente uma cesta básica para um vizinho também necessitado. Neste caso, por barreiras invisíveis, fica distante. Sair do conforto do lar, ajudar uma família carente, parece uma missão quase impossível para alguns. E, nesta maldita pandemia, se podemos destacar algo elogiável, é, sem dúvida, a comprovada preocupação com aqueles que sofrem. E esses atos concretos de socorro têm desfilado sucessivamente diante de nós, muitos destacados pelos veículos de comunicação, em meio a uma tempestade de perdas.
Pior do que o vírus que nos isola é o ódio que corrói as mentes e afasta os corpos. No decorrer destes últimos anos, e agora, em meio à peste, em nosso país, nas ruas e nas redes sociais, também se acentuaram exemplos de atitudes formadoras de caminhos muitas vezes sem perspectivas de volta. Por motivos, aparentemente verdadeiros, mas, no decorrer do tempo, comprovadamente frágeis, rasos, muitos irmãos passaram a desconhecer irmãos. Amigos íntimos tristemente se afastaram e até casais "unidos para sempre" se tornaram surdos diante de suas promessas.
A arte de saber viver não significa concordar com tudo. Discordar é saudável, democrático. Conviver também é ouvir, ceder, perdoar. O Brasil é de todos nós, dos que aqui nasceram e daqueles que por aqui chegaram, se abrigaram, criaram raízes, atraídos pela alegria e doçura do nosso povo, essências que não podem ser perdidas. Fronteiras são apenas convenções. Elas demarcam espaços, mas não separam ou aprisionam sentimentos, sonhos, que são comuns. Afinal, somos uma grande família global, filhos da mesma terra. Tem saída. Um passo importante já foi dado. É só abrir os olhos. E escutar mais o som do coração.
CLÁUDIO FURTADO
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