05
de março de 2013 | N° 17362
DAVID
COIMBRA
Belas e poderosas
Houve
um período da história do papado chamado de “Pornocracia Papal”, ou “Saeculum
Obscurum”, que latim é muito mais bonito. Deu-se entre os séculos 10 e 11. Durante
grande parte desse tempo que tão longe já vai, mulheres belas e poderosas
mandaram na Igreja Católica, donde o termo “Pornocracia”.
Elas
não eram prostitutas, como acusavam os preconceituosos contemporâneos e sugere
o prefixo “porno”, mas sabiam usar a beleza do corpo e a argúcia da mente, e
mulheres que conseguem unir uma a outra qualidades são atraentes e perigosíssimas,
por elas move-se o mundo. Assim, as damas do Saeculum Obscurum fizeram e
desfizeram papas, que era o que de mais importante se podia fazer e desfazer
naquela época.
Uma
dessas mulheres era a duquesa Agiltruda, descrita como uma loira lindíssima, de
cabelos longos e sensualidade porejante. Não é nome de mulher bonita, sei, mas
isso faz mais de mil anos, e as modas de nomes vêm e vão, não duvido que daqui
a algum tempo comecem a surgir Agiltrudas por aí, e elas ganhem o Garota Verão.
Mas
o que interessa aqui é que Agiltruda odiava um certo papa Formoso, que vivia
atrapalhando-lhe os planos de transformar seu filho, Lamberto, em imperador (pelo
nome do filho você pode perceber como as crianças sofriam lá no século 10).
Agiltruda
era uma mulher rancorosa. Tanto que nem a morte de Formoso (outro nominho) aplacou-lhe
a ira. Como vingança póstuma, fez o sucessor de Formoso, Estevão VII, promover
o julgamento do papa morto por diversos crimes que ela mesma se encarregou de
imaginar. O corpo de Formoso foi exumado, vestido com as vestes papais e
sentado no trono para ser julgado.
Visão
dantesca, uma vez que fazia já três estações que havia sido enterrado. Formoso,
obviamente, foi condenado. Arrancaram-lhe, então, os trajes papais, amputaram-lhe
os três dedos da mão direita com os quais abençoava os fiéis e jogaram-no nas águas
turvas do Tibre. Esse episódico ficou conhecido como Sínodo do Cadáver.
Esse
sínodo horrendo foi assistido por outras duas mulheres que mais tarde se
tornariam tão poderosas quanto Agiltruda: Teodora e sua filha Marózia, então
com uns oito anos de idade. Era uma criança, Marózia, mas um dos cardeais que
julgava o cadáver de Formoso apaixonou-se por ela. Mais tarde, esse cardeal
assassinou um ou dois papas até tornar-se, ele mesmo, papa, sob o nome de Sérgio
III. Então, Teodora ofereceu-lhe a filha de presente. Sérgio aceitou, encantado.
Marózia tinha 15 anos de idade e uma imensa sede de poder.
Marózia
e Teodora continuaram mandando na Igreja mesmo depois da morte de Sérgio. O
esporte preferido delas era trocar de maridos e eleger papas. Como disputavam
poder, há quem diga que Marózia mandou matar a própria mãe por envenenamento. Depois,
seguiu dirigindo o Ocidente até os 42 anos de idade, quando um papa mais
esperto prendeu-a nos porões mais profundos do Castelo de Sant’Angelo, aquele
lindo palácio redondo que fica ao lado da Basílica de São Pedro. Marózia achou
que conseguiria sair daquela enrascada. Não conseguiu. Continuou encarcerada
por 54 anos, até que a estrangularam na cela.
Marózia,
Teodora, Agiltruda. Três entre tantas. As mulheres, que terão sua data
comemorada agora, no dia 8, elas influenciaram até no comando da Igreja Católica,
que elegerá um novo papa nos próximos dias. Só do mando do futebol elas
continuam apartadas. Mandam nos Céus e na Terra, mas não num campo de futebol. Será
que isso é bom ou ruim para o futebol?
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