04 de março de 2013 | N°
17361
KLEDIR RAMIL
Escuta
De uns tempos pra cá, surgiu no
Rio de Janeiro uma onda de saraus. Sarau, por definição, é uma “reunião festiva
para ouvir música, conversar, dançar”. Nessa nova concepção, vem a ser um
encontro de compositores em casas e apartamentos para mostrarem uns aos outros
o que andam produzindo.
Um dos pioneiros dessa moda é o
gaúcho Totonho Villeroy, que abriu as portas de sua casa no Leblon para agrupar
gente talentosa que anda solta por aí. É uma nova cena cultural que já revelou
artistas como Maria Gadú.
É mais ou menos como os encontros
que aconteciam no apartamento de Nara Leão em Copacabana, nos anos 1960, que
geraram a bossa nova e – guardadas as devidas proporções – as noitadas que a
gente fazia na “casa da Dona Laura”, mãe da Liane, onde surgiu o Almôndegas.
Essa ideia de um espírito de
grupo, sem precisar ser um movimento e nem uma banda, é uma novidade saudável,
resultado do instinto de sobrevivência dos artistas, que buscam outros
caminhos, depois da falência do antigo modelo das grandes gravadoras. E vem
ajudando a entortar os conceitos estabelecidos na forma de se ouvir/consumir
música.
Há pouco tempo, em Porto Alegre,
fui a um show na Galeria La Photo, onde iriam se apresentar dois sobrinhos
meus: Ian Ramil, que está lançando agora seu primeiro CD, e Thiago Ramil, que
já está pensando no seu. Escuta – O Som do Compositor foi pra mim uma
revelação. A essência é a mesma dos saraus: novos autores, mostrando suas
canções, só de voz e violão. Tudo começou também em apartamentos e evoluiu para
espaços abertos ao público, não apenas para convidados.
O Escuta se define como um bando
sem “unidade estética ou ideológica”, com o objetivo de encontrar “pontos de
contato entre uma geração, estabelecer diálogos e descortinar a cena musical da
cidade”. E consegue. Traça um panorama animador da nova música porto-alegrense.
É claro, como tenho dois
sobrinhos ali, me sinto assim meio “tio” orgulhoso de todos os outros: Gisele
de Santi, Romes Pinheiro, João Ortácio, Rodrigo Panassolo, Ed Lannes, Alexandre
Kumpinski, Leo Aprato, Clarissa Mombelli, Alécio e Saulo Fietz. Mas
independente de meu envolvimento afetivo, posso garantir: a “gurizada” é boa
mesmo. E vem mais por aí. A turma não para de crescer, já são mais de 30.
É gente nova botando a roda pra
girar. Com talento.
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