domingo, 4 de novembro de 2012


Suzana Herculano-Houzel

Comportamento Altruísta

Demonstrações de generosidade não são exclusividade nossa, pois outros animais --felinos, cetáceos e até ratos-- também exibem comportamento altruísta.

Mas não importa: o fato é que o ser humano, ainda bem, é capaz de tomar decisões que beneficiam os outros mesmo quando geram prejuízos para ele, por exemplo para seu próprio bolso.

Para aqueles que acham que só humanos são racionais o suficiente para pensar no que é certo ou errado, a evidência de generosidade em outros animais já deveria bastar para levantar a suspeita de que por trás desse comportamento estão valores emocionais automáticos, como apego e identificação com o outro.

Ainda assim, contudo, resta a possibilidade: será que a generosidade humana também tem outras fontes, mais racionais?

Uma das perguntas colocadas pelo Laboratório de Neuroeconomia de Antonio Rangel, no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos EUA, é: será a generosidade humana oriunda de um prazer genuíno em ajudar ao próximo? Ou vem de uma decisão racional sobre se é certo ou errado você ficar com tudo em vez de dividir com os outros?

Estudando voluntários que toparam decidir de dentro de um aparelho de ressonância magnética como dividir com outros participantes o dinheiro que lhes era ofertado, o grupo descobriu que... as duas coisas são possíveis.

O grau de generosidade dos participantes é variável, tanto entre indivíduos quanto ao longo de cada sessão de estudo, com escolhas cada vez menos generosas ao longo do tempo --um sinal de que a generosidade requer esforço, o que vai ficando cada vez mais difícil conforme o cansaço aumenta.

Esse esforço pode ser visto no cérebro como um aumento da atividade pré-frontal durante decisões generosas, sinal de controle.

A generosidade, de fato, exige controle em algumas pessoas: aquelas menos generosas, cujo cérebro exibe sinais de satisfação ao ver uma decisão generosa não ser implementada. Para essas pessoas, ser generoso é, de fato, fazer a coisa certa.

Mas, para pessoas que se mostram mais frequentemente generosas, decidir compartilhar seus ganhos com conhecidos ou com estranhos não requer qualquer esforço pré-frontal.

Pelo contrário, causa-lhes uma decepção mensurável no cérebro ver a sua escolha generosa não ser implementada.

Para eles, ser generoso "" o que os outros consideram "a coisa certa" --é apenas natural. É... há esperanças para a sociedade!

Suzana Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França e Alemanha, e professora da UFRJ. Escreve às terças, a cada duas semanas, na versão impressa de "Equilíbrio".

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