Suzana
Herculano-Houzel
Comportamento Altruísta
Demonstrações
de generosidade não são exclusividade nossa, pois outros animais --felinos, cetáceos
e até ratos-- também exibem comportamento altruísta.
Mas
não importa: o fato é que o ser humano, ainda bem, é capaz de tomar decisões
que beneficiam os outros mesmo quando geram prejuízos para ele, por exemplo
para seu próprio bolso.
Para
aqueles que acham que só humanos são racionais o suficiente para pensar no que é
certo ou errado, a evidência de generosidade em outros animais já deveria
bastar para levantar a suspeita de que por trás desse comportamento estão
valores emocionais automáticos, como apego e identificação com o outro.
Ainda
assim, contudo, resta a possibilidade: será que a generosidade humana também
tem outras fontes, mais racionais?
Uma
das perguntas colocadas pelo Laboratório de Neuroeconomia de Antonio Rangel, no
Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos EUA, é: será a
generosidade humana oriunda de um prazer genuíno em ajudar ao próximo? Ou vem
de uma decisão racional sobre se é certo ou errado você ficar com tudo em vez
de dividir com os outros?
Estudando
voluntários que toparam decidir de dentro de um aparelho de ressonância magnética
como dividir com outros participantes o dinheiro que lhes era ofertado, o grupo
descobriu que... as duas coisas são possíveis.
O
grau de generosidade dos participantes é variável, tanto entre indivíduos
quanto ao longo de cada sessão de estudo, com escolhas cada vez menos generosas
ao longo do tempo --um sinal de que a generosidade requer esforço, o que vai
ficando cada vez mais difícil conforme o cansaço aumenta.
Esse
esforço pode ser visto no cérebro como um aumento da atividade pré-frontal
durante decisões generosas, sinal de controle.
A
generosidade, de fato, exige controle em algumas pessoas: aquelas menos
generosas, cujo cérebro exibe sinais de satisfação ao ver uma decisão generosa
não ser implementada. Para essas pessoas, ser generoso é, de fato, fazer a
coisa certa.
Mas,
para pessoas que se mostram mais frequentemente generosas, decidir compartilhar
seus ganhos com conhecidos ou com estranhos não requer qualquer esforço pré-frontal.
Pelo
contrário, causa-lhes uma decepção mensurável no cérebro ver a sua escolha
generosa não ser implementada.
Para
eles, ser generoso "" o que os outros consideram "a coisa certa"
--é apenas natural. É... há esperanças para a sociedade!
Suzana
Herculano-Houzel, carioca, é neurocientista treinada nos Estados Unidos, França
e Alemanha, e professora da UFRJ. Escreve às terças, a cada duas semanas, na
versão impressa de "Equilíbrio".
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