Fernando
Molica
O tiroteio virtual na
Internet
Rio -
A Internet, com suas caixas de comentários espalhadas por diversos sites e
blogs, deve ajudar a poupar muitas vidas. É só notar o grau de violência de boa
parte dos leitores. Alguns parecem escrever como quem aperta o gatilho em um
tiroteio. Balas em forma de letras saem dispostas a acertar o primeiro que
passar por sua frente. Ou seja, tanto melhor que tais tiros sejam apenas
virtuais — como mais ou menos proclamou aquele político paulista, ofendem mas não
matam.
Os
dicionários não seriam capazes de dar conta da variedade de insultos. A
interatividade da rede de computadores destampou uma demanda reprimida, a
necessidade represada de reclamar, opinar, desancar e xingar. Os fóruns de
comentários nem de longe lembram as geralmente comportadas seções de cartas dos
jornais.
Ao
se julgar atingido por alguma notícia ou comentário, o internauta saca de seu
teclado, atira primeiro e nem pergunta depois. Não concorda com nenhuma palavra
do que leu e chega a defender até a morte o dever de seu antagonista ficar de
boca fechada e de dedos amarrados. Na Internet tudo é rápido, diante de algo
que considere absurdo, o internauta, muitas vezes sem se identificar, tende a
mandar às favas qualquer escrúpulo de comedimento.
E
tome de citações a mães de políticos, de referências nada sutis à sexualidade
deste ou daquele personagem. E ai daquele que, num esforço, tenta evitar que
injúrias, calúnias e difamações cheguem a público.
No mínimo
será chamado de censor. Pior é que muitas vezes o que é publicado em blogs anônimos
ganha peso de verdade absoluta. A fofoca eletrônica tende a arrebanhar
seguidores. Não adianta determinada estatal negar que uma advogada condenada
por estelionato tenha sido admitida em seus quadros. Vale o escrito, mesmo em
espaço sem qualquer credibilidade.
Mas
a possibilidade de manifestação dos leitores precisa ser saudada, foi
importante criar algum equilíbrio entre quem produz e quem consome informações.
É ótimo que jornalistas e articulistas tenham perdido aquilo que, numa referência
à TV, o Muniz Sodré chamou de monopólio da fala.
A
Internet ainda é muito nova. Talvez, com o tempo, passada a ânsia de dizer tudo
aquilo que ficou guardado por tantos anos, o ímpeto justiceiro seja substituído
por uma postura mais democrática e o diálogo se sobreponha à gritaria eletrônica.
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