11 DE JUNHO DE 2021
EDUARDO BUENO
Um milhão de amigos
Correndo o risco de naufragar no cabotinismo, me vejo na dolorosa circunstância de falar bem de mim. É que ando nadando de braçada no tenebroso mar do orgulho desmedido. Faz já um tempo, tenho um canal de YouTube. Chama-se Buenas Ideias e trata exclusivamente de história do Brasil. Essa semana, ele atingiu a marca de um milhão de inscritos, com mais de 50 milhões de views no total de 200 episódios. Claro que no universo avassalador das redes sociais, um milhão de seguidores não é tanto assim. Tem gente com 60 milhões e os youtubers Whindersson Nunes e Felipe Neto possuem 40 milhões cada. A questão é que, como disse, Buenas Ideias é sobre história do Brasil - Cabral, Vargas, Collor, coisas assim, sabe?
Em função do clima de "festa", Buenas Ideias recebeu uma enxurrada de mensagens. Houve mais de uma centena de casos inacreditáveis. Alguns deles: "Cheguei em casa e meu filho estava agarrado nas costas do sofá, na horizontal, uma perna por cima e a outra mão embaixo", contou a mãe de um garoto de oito anos. "Quando perguntei o que estava fazendo, ele disse: ´Ora, montando a cavalo como os índios charruas?, e falou que tinha visto o vídeo no seu canal. Ele não perde um". Uma menina de 15 anos comentou: "Minha avó de 93 anos virou membro do canal porque não consegue esperar até as quartas e quer receber os episódios nas terças-feiras. Falou que se tivesse te conhecido antes, seria professora de História".
Teve muito mais. "Meu bebê de cinco meses está viciado na sua voz - ou devo dizer nos seus gritos?", revelou um jovem pai. "Ele só pega no sono se o seu canal estiver ligado. Também, desde que ele estava na barriga, minha mulher e eu já te assistíamos". A mais engraçada: "Eduardo Bueno, seu maldito. Desde que você apareceu, minha esposa e eu transamos menos. A gente deita na cama e... fica maratonando seu canal". Uma das mais comoventes: "Aos 38 anos, sem faculdade e com a pandemia, eu estava desanimado. Seus vídeos me fizeram resgatar um sonho. Faz dois meses, estou cursando História". Juro por Bob Dylan: mais de mil (sim, mil!) pessoas já me disseram isso na vida.
Não sou historiador de oficio. Há uma diferença grande entre meu trabalho e o métier dos historiadores. Não julgo, porém, que haja conflito entre ambos e já faz tempo que abandonei essa polêmica vazia - embora tolos se mantenham presos a ela. Mas o que sei é que depois de mais de um milhão de livros vendidos e um milhão de inscritos no canal, fiz bem mais para despertar o interesse pela história do Brasil do que aqueles que perdem tempo falando mal de mim.
Se eles quiserem fazê-lo enviando mensagens para o canal, que o façam - só recomendo que tomem cuidado com a reação do charrua de oito anos e da velhinha de 93. E, claro, que não ousem perturbar o sono do bebê de cinco meses.
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