OS DANOS DA INFLAÇÃO
Causa especial preocupação aos brasileiros o forte avanço da inflação nos últimos meses, como mostrou o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, divulgado ontem pelo IBGE. Com a alta de 0,83%, acelerando em relação a abril, foi a maior taxa para o período desde 1996 e levou a alta do indicador a 8,06% em 12 meses. A situação, por certo, deve merecer especial atenção do governo federal nas frentes em que pode atuar.
A elevação do custo de vida corroendo a renda dos trabalhadores se torna ainda mais alarmante pelo fato de o país atravessar dias de elevado desemprego. São quase 15 milhões de pessoas que procuram ocupação e não encontram, indicando que a sobrevivência se torna uma tarefa ainda mais laboriosa. Uma parte importante desta inflação decorre da alta das commodities. Ou seja, é um fenômeno oriundo do mercado internacional e é observado também em outros países, igualmente por aumento dos gastos públicos, desorganização de cadeias para o fornecimento de insumos industriais e até por certa euforia com o avanço da vacinação e perspectivas de controle da pandemia.
Ocorre que, enquanto isso, a renda dos brasileiros está estagnada e a crise sanitária um pouco mais longe de ser vencida. Assim, torna-se impossível garantir o poder de compra e acompanhar as remarcações nos supermercados, nos postos de gasolina e nas contas que chegam no dia a dia. O agravante, agora, é que aparece com mais força o aumento da fatura de luz pela seca que afeta os reservatórios das hidrelétricas. Grande vilã do mês, a energia subiu 5,37% e tende a seguir pressionando nos próximos meses, mas combustíveis e alimentos também voltaram ficar mais caros.
O salto da inflação, uma espécie de imposto que atinge de forma mais profunda as camadas mais humildes, torna ainda mais indispensável a medida anunciada pelo governo federal de prorrogar o auxílio emergencial "por mais dois ou três meses", como disse o ministro Paulo Guedes. Afinal, apesar da surpresa positiva do PIB do primeiro trimestre, ainda não existem sinais consistentes de retomada forte de atividades mais ligadas à dinâmica do mercado doméstico, especialmente dos serviços, que permitam projetar fortalecimento do emprego. Espera-se que, pelo lado da despesa, o governo também encontre gastos a serem cortados para compensar o amparo na área social.
A meta da inflação estabelecida pelo Banco Central (BC) para 2021 é de 3,75%. Há ainda uma margem de tolerância, para mais ou para menos, de 1,5 ponto percentual. Bem abaixo do patamar atual do IPCA, portanto. Com a surpresa negativa de maio, cresce a expectativa sobre a comunicação do Copom, que na última reunião, no início de maio, sinalizou novo aumento de 0,75 ponto percentual da Selic (hoje em 3,5% ao ano) para o encontro da semana que vem. O risco é a inflação, que parece disseminada pelos vários grupos de despesas, não ser tão transitória como previa até agora o BC. Um aumento mais agressivo do juro pode ainda prejudicar o início de recuperação da economia brasileira.
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