21 DE JUNHO DE 2021
HISTÓRIAS DE PORTO ALEGRE
Tour relembra lendas macabras da Capital
A rua onde morava um serial killer, o castelo de pedras que aprisionou uma linda mulher e o largo em que os condenados eram enforcados no século 19 são paradas de um tour sobre as lendas urbanas de Porto Alegre, que ocorre a cada duas semanas no Centro Histórico. A caminhada noturna de dois quilômetros é realizada desde 2020 por dois guias de turismo do projeto Viva+POA.
Evandro Costa, 27 anos, e Tamara Dias, 35, conduzem o walking tour a partir do Viaduto Otávio Rocha, na Avenida Borges de Medeiros, mesclando os relatos do imaginário popular com informações documentadas. Volta e meia, um dos dois some para reaparecer fantasiado. É que, como em um teatro de rua, são os personagens das histórias que surgem para contar suas versões.
A primeira parada é no Museu Júlio de Castilhos, onde morreu o então presidente do Estado em 1903. Dois anos depois, sua esposa, Honorina, cometeu suicídio no casarão, consagrando a fama de mal-assombrado do prédio. A sombra das árvores projetada pela iluminação da rua só endossa o relato assombroso dos guias.
Os túneis subterrâneos do Palácio Piratini e o cemitério açoriano que havia na área da Cúria Metropolitana há mais de 200 anos são abordados no caminho, levando ao momento mais sombrio da noite: a história do linguiceiro da Rua do Arvoredo. Ela se passa na metade do século 19.
- O Jack Estripador ainda era criancinha e esse já estava causando - comenta Tamara.
A localização exata da casa do assassino em série José Ramos é uma incógnita: a rua ganhou um traçado diferente e passou a ser chamada de Fernando Machado. Reza a lenda que dos corpos das vítimas seria produzida a linguiça, vendida em um açougue.
Quem conta o causo é o próprio José Ramos, com um avental manchado de sangue e um machado em mãos. Ele dá detalhes de como matava, desossava e preparava a iguaria canibal, com base em trechos do livro O Maior Crime da Terra, de Décio Freitas. José Ramos de fato foi condenado por homicídios, mas no julgamento não se cogitou que seriam feitas linguiças com a carne das vítimas.
Maldição
Os participantes andam então em direção ao Alto da Bronze. Na Rua Vasco Alves, conhecem o castelinho de inspiração medieval construído em pedras cinzas na década de 1940 pelo político Carlos Eurico Gomes.
Aprisionou nele a sua amante, uma jovem chamada Nilza Linck. Era tão ciumento que não a deixava sequer se aproximar das janelas. Nilza viveu quatro anos ali até arranjar coragem para deixá-lo.
O tour ainda passa pela Praça Brigadeiro Sampaio, onde eram penalizados os homens escravizados condenados por seus senhores, de chibatadas à forca. Diz a lenda que, segundos antes de ter o alçapão aberto sob seus pés e despencar com a corda no pescoço, um condenado por roubar uma joia na Igreja das Dores lançou a maldição:
- Como prova da minha inocência, vocês nunca vão ver as torres da igreja construídas.
As obras de fato se arrastaram: iniciadas em 1807, só terminaram em 1904. E é na frente do templo de arquitetura eclética que o tour é finalizado. É quando Tamara conta a última lenda, essa sem demonstrar muita convicção.
- Dizem que quem casa aqui não descasa. Será?
Morando em Porto Alegre há 15 anos, o empreendedor Wayner Bechelli se espantou com o tanto que não sabia sobre a Capital. Relata que é comum se fazer walking tours ao visitar outras cidades, e lhe parece "um absurdo" não experimentar no próprio município.
Já o adestrador de cães Mauricio Castro Pinzkoski se surpreendeu especialmente com a qualidade da encenação feita pelos guias:
- É um passeio que faz você entrar nas histórias.
Para participar da experiência, é cobrado o valor de R$ 35. O percurso é realizado duas sextas-feiras por mês, das 19h às 21h30min.
JÉSSICA REBECA WEBER
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