terça-feira, 15 de junho de 2021


15 DE JUNHO DE 2021
+ ECONOMIA

Luxo e vaidade

Entre janeiro e março, a Colnaghi teve o melhor primeiro trimestre de seus quase 30 anos. O salto na receita - basicamente comissões sobre vendas de imóveis - foi de 245% ante igual período de 2020. Para manter a velocidade, criou uma equipe focada em lançamentos, diante da projeção do Sinduscon-RS de que o valor em Porto Alegre neste ano quebre recorde, alcançando R$ 8 bilhões.

Segundo o fundador, Paulo Colnaghi, a imobiliária quer usar a experiência em imóveis usados de alto padrão. Há poucos dias, vendeu unidade no "prédio mais luxuoso de Porto Alegre" por R$ 6,1 milhões. Diz que os compradores são empresários, advogados, médicos:

- Um dos motivos para compra é a garagem projetada para que as Ferrari entrem sem raspar no chão. Claro que há aspectos objetivos, o prédio fica no centro do terreno, é alto, tem vista. Mas a vaidade pesa. Se um amigo comprou, o outro também quer.

foi a alta do Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em abril ante março. Em relação ao mesmo mês de 2020, o salto foi de 15,92%, já que abril do ano passado foi o fundo do poço da pandemia. No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, o indicador já toca 4,77%.

Desigualdade chega ao topo histórico durante pandemia

Com um misto de dados objetivos e indicadores subjetivos como felicidade, raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento, a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, da FGV Social, mostra um cenário mais alinhado à realidade do que o retratado no PIB. É formado por recorde de desigualdade e alto desconforto, expressado pelo diretor do centro de estudos, Marcelo Neri, em um verso bem conhecido dos gaúchos: "felicidade foi-se embora", como na letra de Lupicínio Rodrigues.

A pesquisa fecha um trio - até agora - com levantamentos anteriores chamados Como Vai a Vida? e Percepções da Crise. Com base na renda efetiva do trabalho per capita é que a FGV Social aponta Índice de Gini (referência de desigualdade) de 0,674 no primeiro trimestre deste ano, considerada a média móvel de quatro trimestres. É o mais alto da série histórica que começa no último trimestre de 2012. Quanto mais alto for o Índice de Gini, maior é a desigualdade.

No capítulo que Neri titula de "felicidade foi embora" (sem a partícula "se"), o resultado foi uma nota de 6,1 - nesse caso, o menor ponto da série histórica iniciada em 2006. Essa avaliação é baseada em respostas diretas de pessoas a perguntas subjetivas sobre bem-estar, com nota de avaliação de "satisfação com a vida" em escala de zero a 10. O que o pesquisador chama de "felicidade geral da nação" vinha caindo desde 2013.

O estudo considera o primeiro trimestre deste ano - ao menos até agora - o pior ponto da crise social. Segundo Neri, do ponto de vista social não se podia falar em recuperação, mesmo que tímida, até a pandemia. A recuperação da renda média, explica, foi neutralizada pela contínua alta da desigualdade.

A conclusão é de que indicadores objetivos, como desigualdade e ganhos em renda per capita do trabalho apresentam piora inédita na pandemia. Indicadores subjetivos, como "felicidade", apresentaram queda maior. Na comparação do Brasil com a média de 40 outros países, foi apontada "perda relativa de felicidade brasileira", e em cinco outros indicadores subjetivos de emoções cotidianas.

MARTA SFREDO

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