quarta-feira, 9 de junho de 2021


08 DE JUNHO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Manifesto

Parem o planeta que eu quero pular desta Terra plana em algum lugar bonito pra viver em paz. Além do horizonte deve ter um país onde o amanhecer é lindo, com natureza exuberante, talvez com a maior floresta tropical do mundo, com rios limpos, árvores frondosas, animais saudáveis e livres - sem desmatamentos, sem exploração criminosa, sem ganância predatória, sem jeitinho de passar a boiada sobre os limites da democracia, da boa vontade e do bom senso.

Sei, porque disse o rei, que existe um lugar bonito e tranquilo, talvez uma nação continental, com futebol e Carnaval, muito sol e muito mar, alegria e felicidade com certeza e o ano inteiro - isso, evidentemente, quando o traficante, o assaltante ou até mesmo algum mau governante não chegam primeiro.

Quero voltar a curtir as tardes de futebol sem pensar na vida, apreciando apenas o drible, o lançamento perfeito, o gol de placa e o canto coletivo da torcida - sem me aborrecer com jogo de posição, temporização, teorias da enganação, técnico retranqueiro, bola recuada para o goleiro e sem passar outra vez pelo espanto de ver a política entrando em campo.

Quero vestir novamente as cores da nação (na Redenção ou no Parcão) sem medo de confusão, sem rotulação, sem apropriação, pois esse gigante pela própria natureza não é só verde, azul e amarelo - o Brasil também é cor-de-rosa e salmão, diverso, múltiplo e belo, de todos e todas que verdadeiramente o levam no coração.

Quero ver o nosso país apostando de verdade na educação, que continua sendo o mais poderoso antídoto para o terraplanismo, o negacionismo, o autoritarismo e outros ismos que só fazem mal à humanidade e agravam a polarização entre irmãos.

Mas o que mais peço ao destino, aos deuses e à ciência neste momento de sofrimento e desgosto é que nos devolvam o direito de andar por aí sem máscara no rosto - para que nunca mais tenhamos de evitar sorrisos, abraços e carinhos, nem de recusar convites para o bate-papo e o cafezinho.

Já temos a nossa terra prometida. Porém, como questionou o nosso maior cantor, de que vale o paraíso sem amor?

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário: