12 DE JUNHO DE 2021
BRUNA LOMBARDI
OS CAPRICHOS DO AMOR
Carlos Drummond de Andrade escreveu: "Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando".
Se o amor é o bem supremo dos sentimentos, por que relacionamentos são tão difíceis? Por que queremos tanto amar e ser amados e, no entanto, complicamos tudo, até o instante em que o amor se desintegra, depois de uma grande explosão?
Não é por acaso que, na mitologia, Cupido, figura mítica, é filho de Vênus, deusa do amor, e de Marte, deus da guerra. O amor carrega dentro de si essas duas energias opostas, esse conflito de sentimentos que, se a gente não prestar atenção, nos desgasta, derruba, derrota. Joga contra as paredes nosso coração partido e nos arrasta no chão, implorando que os deuses aliviem esse redemoinho de emoções.
Pedimos a Eros, Isis, Afrodite, Freya, Oxum, Santo Antonio, São Valentim e quem mais puder proteger esse tesouro tão sensível e delicado que carregamos dentro de nós.
Podemos reverter esse destino? Podemos antecipar as ciladas do amor e desviar delas? Podemos construir a cada dia um pouco, tecer pacientemente o fio dessa fina tapeçaria, criar um belo desenho que traduza aquilo que desejamos no nosso íntimo? O que é preciso pra isso?
Será que nós, que amamos tanto, aprendemos a compreender a abrangência desse sentimento? Sabemos de verdade alimentar as raízes do amor, para flores, folhas e frutos desabrochem?
Precisamos ter intimidade com esse sentimento que nos invade, nos transporta, nos transforma. É preciso criar uma cumplicidade profunda com a pessoa que amamos, para que possamos nos entender, mesmo à distância, com um simples olhar, um gesto, um código.
É fundamental ter humor parecido e dar muita risada juntos. É bom ter as mesmas referências, os mesmos interesses, gostar de fazer as mesmas coisas. Ter visão da vida, filosofia e valores parecidos.
É muito importante gostar de transar e de dormir agarrado. Amor tem que saber esquentar os pés, mesmo se existe sempre uma boa diferença de temperatura entre os corpos, a eterna briga de tirar e puxar o edredom. E é preciso saber se divertir com as diferenças, com as características do ajuste de uma relação. Saber fazer nossos defeitos terem algum encanto, nossas particularidades serem motivo de risos e não de raiva. Afinal tem alguém perfeito nesse mundo?
Nenhum relacionamento é perfeito, mas o amor, sim, é e consegue fazer a gente enxergar só a maravilha das coisas. O amor tem o poder extraordinário de aquecer, iluminar, colorir. O amor torna os seres humanos generosos e é com essa generosidade que podemos mudar o mundo. Não importa quanto dura o amor, porque ele sempre vale a pena, desde que nos faça bem no percurso.
Quando conheci o Ri, escrevi: "Se a paixão há de ser provisória, que seja louca e linda a nossa história". Depois de décadas juntos, ele disse "Casamento só é bom quando é cada vez melhor". Assim é o nosso.
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