domingo, 27 de junho de 2021


26 DE JUNHO DE 2021
JULIA DANTAS

LEMBREMOS DO PAMPA

Agora que finalmente Ricardo Salles está fora do Ministério do Meio Ambiente, é hora de reforçar a preocupação com a preservação dos nossos territórios verdes. No noticiário nacional, muito se fala (como é devido) do desmatamento recorde da Amazônia, das queimadas no Pantanal, do volume nunca antes visto de madeira ilegal sendo transportada no país, mas aqui na nossa região fica quase esquecida a situação igualmente dramática do Pampa.

Conforme dados coletados em 2016 pelo Inpe (aquele mesmo Inpe atacado pelo Ministério do Meio Ambiente por ter feito seu trabalho de divulgação de informações), o Pampa já perdeu mais da metade de seu alcance original, e o ritmo de destruição vem aumentando anualmente.

É possível que nossa pouca atenção se deva ao tamanho do Pampa no Brasil, pequeno em comparação às grandes florestas tropicais: ele ocupa apenas cerca de 2% do território nacional. Isso não diminui sua importância. Embora, somando-se a área total, o Pampa fique atrás de outros ecossistemas nas métricas de biodiversidade, proporcionalmente ele apresenta a maior biodiversidade do país, já que, num único metro quadrado de campo nativo, é possível encontrar 57 espécies diferentes de plantas.

As áreas destruídas do Pampa são geralmente transformadas em áreas de cultivo agrícola, muitas delas em territórios que deveriam ser protegidos por lei. Os avanços das florestas de eucalipto e pinus, além de projetos de mineração, também ameaçam a integridade do bioma que, vale lembrar, abrange territórios de países vizinhos e abriga o aquífero Guarani, uma das maiores reservas mundiais de água doce.

Ao contrário do que acontece na Amazônia, onde muitas terras são arrasadas para dar espaço à criação de gado, aqui o Pampa sofre com a substituição da pecuária pela monocultura de soja. Pesquisadores da UFRGS ressaltam que a presença de gado livre aqui é benéfica, ajudando a manter a vegetação do Pampa equilibrada. Mas as zonas que antes serviam de pasto têm sido desmatadas: no ano passado houve um aumento de 99% no desmatamento em relação ao ano anterior, segundo dados do sistema MapBiomas Alerta. Desnecessário dizer que esse desmatamento costuma ser criminoso, e nada surpreendente dizer que, na conta geral do Brasil, apenas 5% dos avisos de desmatamento resultaram em multa ou embargo.

Para que esse bioma singular seja preservado, é preciso que se faça valer a lei que impõe Reserva Legal de 20% nas propriedades rurais. E, para isso, é necessário um Ministério do Meio Ambiente que esteja, de fato, interessado no meio ambiente.

JULIA DANTAS

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