sábado, 12 de junho de 2021


12 DE JUNHO DE 2021
EM FAMÍLIA

A MORTE, O AMOR E AS CRIANÇAS

O LUTO PRECISA SER VIVIDO E NÃO EVITADO, ESCREVE PSICÓLOGA

A vida da criança é marcada por várias fases diferentes. E a cada vez que chega em uma nova idade, nos surpreende com descobertas e inquietações. Um dos temas mais delicados de serem conversados que encontramos como pais e educadores é o da morte. Mas não tem jeito, essa é uma pergunta que vai surgir mais cedo ou mais tarde no desenvolvimento infantil. E a pandemia de covid-19 colocou a morte no cotidiano de muitas famílias. Não podemos evitar de abordarmos o assunto com todo o cuidado e respeito que a infância merece.

É no período de quatro a seis anos de idade que o medo da morte se torna evidente e que essa pergunta começa a aparecer em vários momentos. Antes disso, a criança só percebe as coisas vivas, a exploração pelo que há de concreto a sua volta. À medida que amadurece, passa a associar a morte com a ausência, a falta do objeto amado, e passa a compreender então que algumas ausências não são capazes de retornar, são para sempre, irreversíveis.

Mas é só no final da educação infantil, por volta dos seis ou sete anos, que se dará conta de que a morte é algo inevitável, que forma parte do ciclo da vida.

Como as crianças relacionam a morte com o abandono e a separação, seu principal temor é perder os pais. Isso acontece porque quando elas crescem percebem que morrer é natural e pode acontecer a qualquer pessoa, de qualquer idade, por diversos motivos.

Como em todos os casos, o melhor a fazer quando surgem perguntas sobre a morte é conversar abertamente, usando uma linguagem simples e direta. Mas muitas vezes me questionam: como ajudar a lidar com a morte? Como contar quando um ente querido morrer? Será que eles conseguem enfrentar essa barra?

Na hora de dar uma notícia sobre a morte de alguém com quem a criança tem uma forte relação, os pais precisam ser bastante verdadeiros, afetuosos e seguros. É preciso tentar responder às perguntas sem ter o receio de dizermos, inclusive, que para algumas não teremos respostas e precisaremos pensar juntos. Não há necessidade de falarmos mais do que a criança realmente pergunta, isto é, mais do que ela precisa saber no momento.

A criança percebe quando ocorreu uma morte, e não falar sobre ela pode provocar medo, insegurança.

Não gosto muito de metáforas para explicar a morte para as crianças Por exemplo: falar da morte como "sono eterno" pode causar incompreensão, porque se confunde com o sono diário, o mesmo pode acontecer quando se fala da morte como "viagem eterna". O que tem como objetivo diminuir a dor pode causar dificuldades de compreensão.

> A importância das lembranças

O importante é salientar que a pessoa que morreu deixará muita tristeza e depois saudades, que ela não estará mais aqui e agora e não viverá mais conosco. Os pais também podem dizer que, quando sentir saudades do ente querido, poderá lembrar dele através de suas brincadeiras, desenhos ou pensamentos.

Certamente a criança terá mais duvidas sobre a morte, mas as perguntas dependerão da sua etapa evolutiva, da sua idade e de seu próprio repertório de experiências. É importante explicar de forma adequada para a sua idade sobre o velório e o funeral. Podemos recorrer à literatura infantil (cito, por exemplo, A Operação de Lili e O Medo da Sementinha, ambos do escritor Rubem Alves) ou aos filmes, como as animações da Disney Bambi e O Rei Leão.

É importante que os pais ou educadores possam demonstrar os sentimentos e a dificuldade de lidar com este momento para a criança. Ficar triste e chorar forma parte do contexto e é natural ser vivido e sentido com ela. Não temos como esconder os sentimentos e as emoções. Não é nada adequado, por exemplo, dizer para a criança ser forte e não chorar. Acolher a emoção da criança frente ao que está sentindo e expressando vai lhe proporcionar segurança e confiança.

A criança, mesmo pequena, sente a tristeza da família. Por isso, o melhor é encorajar a criança a falar sobre a pessoa que morreu e deixá-la compartilhar seu sentimento. O luto precisa ser vivido e não evitado, por mais difícil que seja.

Viver este processo em família é fazer com que a criança sinta-se pertencente a esta dinâmica. A criança vai se sentir mais protegida e segura se compartilhar suas emoções com os pais, sem maquiar ou esconder tudo que envolve a partida de alguém querido.

É consensual entre os especialistas que a educação para a morte ensina a viver, e, independentemente da cultura ou religião, a questão da morte precisa ser olhada e tratada com todo o cuidado e delicadeza, pois traz à tona questões profundas da nossa existência e finitude.

SOLANGE LOMPA TRUDA (*)

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